quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Os refugiados de tantos tempos

 Como tratar a guerra, a violência e a perseguição que já forçou 65 milhões de pessoas a fugir de suas casas ao redor do mundo? O termo refugiado é milenar, mas foi estruturalmente organizado na Convenção dos Refugiados, em 1951, em resposta ao fluxo massivo de migrações de judeus na Segunda Guerra Mundial. Indivíduos são forçados a fugir de seu país de origem, estando incapacitados de retornar em razão do receio de serem perseguidos. A perseguição pode ser em virtude de sua raça, religião, nacionalidade, classe social ou opinião política. Na atualidade, metade dos refugiados do mundo são crianças, e milhares delas estão desacompanhadas de adultos ou responsável, evidenciando uma situação que as tornam extremamente vulneráveis às violações como o trabalho infantil, o casamento forçado ou a exploração sexual. A assistência humanitária é um mecanismo de resposta para com as necessidades das populações afetadas aos conflitos em seus países que as levam a fugir desesperadas, em busca de um novo começo diante da vida abalada por guerra, bombas, perseguições e mortes. As potências mundiais são as principais financiadoras humanitárias. E esses atores assumem uma função decisiva no progresso da ordem humanitária que pode dar suporte a essas milhares de pessoas, ou podem ter o poder decisivo de estagnarem esse progresso. Pela sua potência, o poder hegemônico dos Estados Unidos está sempre à frente dos holofotes na tentativa de dar prosseguimento na luta contra o terror no mundo árabe, tendo em vista que a Jihad e o Estado Islâmico, além das oposições entre xiitas, sunitas e curdos, são alguns dos principais terrenos motivadores de perseguições, entre outros. Mas se sabe que os EUA provocou o agravamento dos problemas, incluindo o apaixonado radicalismo islâmico. No âmbito da diplomacia internacional, a Rússia, a Alemanha e a França são vistos pelos países extremistas como principais pontos de apoio e confiança para se tornarem aliados. A capacidade de respostas de equilíbrio contra a crise é ouvida e contrabalanceada pelos governos radicais, eles ao menos refletem sobre o consenso de um compromisso global. No entanto, as estatísticas até agora não animam para os próximos dez anos: em 2015, verificou-se que somente os EUA ultrapassam 596 bilhões de dólares em gastos com os países em crise, em relação ao total de gastos somados dos governos da Rússia, China, Japão, Arábia Saudita, Alemanha, Israel, França e Reino Unido. As expectativas de justiça e paz social nos Estados islâmicos possuem um emaranhado de desordem, em que não se encontram respostas. Mas deve haver esperança e reflexão sobre a história sofrida que se repete a cada dia.  Primeiramente, agir com compaixão. Enxergar-se no lugar do outro. Para quem já leu Hanna Arendt, conhece e se comove também com sua história e condição de refugiada. Ela foi uma cientista política alemã, de origem judaica, nascida em 1906, uma das teóricas políticas mais influentes do século XX. Ela conseguiu emigrar da Alemanha depois de ter sido perseguida e presa em 1933. Tornou-se apátrida até 1951, quando conseguiu finalmente uma nacionalidade. Ela escreveu uma carta jornalística, chamada “Nós, os refugiados”, e nos força a pensar com a devida sensibilidade para as questões verdadeiramente humanitárias: “Perdemos a nossa casa o que significa a familiaridade da vida cotidiana. Perdemos o nosso trabalho, o que significa a confiança de que tínhamos algum uso neste mundo. Perdemos a nossa língua o que significa a naturalidade das reações, a simplicidade dos gestos, a expressão impassível dos sentimentos. Deixamos os nossos familiares. […] Não sei que memórias e que pensamentos habitam toda a noite nos nossos sonhos. Não me atrevo a perguntar por essa informação, uma vez que, também eu, preferia ser uma otimista. […] Não. Há algo de errado com o otimismo. Há aqueles estranhos otimistas entre nós que, tendo feito vários discursos otimistas, vão para casa e ligam o gás ou dão uso a um arranha-céu de modo inesperado […] Ao mencionar a convicção de que a vida é o bem maior e a morte a maior consternação, tornamo-nos testemunhas e vítimas de terrores piores que a morte – sem termos sido capazes de descobrir um ideal maior que a vida. Assim, embora a morte perca o seu horror para nós, não nos tornamos nem dispostos nem capazes de arriscar a nossa vida por uma causa.”



terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O que ver em série


Quem ainda nao sonhou com E.T.s, ou que estava rodeado de zumbis, não sabe o que é finalmente chegar no século XXI. A nova era que tanto almejávamos na década de 90 está sob os nossos pés exageradamente cheia de novidades. A digitalização global é uma realidade fixada, chegou para ficar, assim como a eletricidade e a água encanada. Nessa semana que se passou, veio a óbito o padre Quevedo, parapsicólogo e ajudante de limpeza da ignorância de todos nós, humanos, que acreditamos em qualquer bobagem que julgamos ser conveniente acreditar. Talvez por estar muito velhinho ele havia se desvinculado das aparições televisivas, jornalísticas, fantásticas. E fez falta na última década. Também pode ter se desvinculado por perceber que o ser humano está muito mais preso e agarrado a ondas de acontecimentos que deposite nele uma perturbação de desentendimento primitivo. É isso está sendo permitido acontecer com uma sucessão produtiva de séries cada vez mais impressionantes sobre o Apocalipse, o último livro do novo testamento das Escrituras Sagradas. Cada série com o devido teor de fantasias e medos, cada vez mais obscuras, fantásticas, diabólicas e assustadoras. Somente produziram e continuam porque há quem nota que é o que importa no momento para o homem. Indivíduos perceptíveis inseridos globalmente em massa que pensam demasiadamente em vingança e em si próprio egoisticamente. Netflix e recentemente Amazon Prime vídeo desbancam novas séries sobre diversas teorias do fim do mundo, de guerras de todos contra todos, de zumbis, de alienados. O telespectador está embebedando dia após dia de fantasmagóricas hipóteses sobre um futuro próximo. Recentemente foi confirmada a terceira temporada da série “Anne with an E”, que possui o Best-seller “Anne of Green Gables”, da canadense Lucy Montgomery, escrito em 1908. Lucy contou muito de sua própria história no livro, aos 21 meses sua mãe morre e é rejeitada pelo pai. Na infância sofria de muita solidão, foi criada pelos avós com uma educação rígida e austera. Depois de adulta se forma em literatura e mais tarde publica o livro de repercussão internacional. Anne se tornou símbolo da cultura canadense, trata de temas com os quais lidamos ainda hoje, feminismo, bullying e preconceito. Na série, Anne não perde suas características principais, romântica e inteligente, apaixonada por todos os tipos de conhecimento, extremamente questionadora, uma jovem de treze anos que enfrenta a sociedade patriarcal e duramente ofensiva do vilarejo no qual foi inserida. É uma série encantadora, cheia de pureza humana, de charme e também de muitas críticas aguçadas sobre o nosso comportamento em sociedade. Mas é uma série sem nenhuma presunção, sem quantias enormes gastas em dinheiro. E fala sobre o que precisamos ouvir, põe o dedo no ego da ferida humana, e não fica fantasiando os nossos olhos exorbitantemente com dragões, bruxos, zumbis, vampiros e mágicas. O livro é de arrancar lágrimas de muitos durões, e a série é de deixar a alma leve depois de um dia cheio de atribulações e trabalho. Ao mesmo tempo ela nos dá boas lições sobre as nossas próprias atitudes e reações que às vezes é tão ofensiva e não percebemos. A vida de Anne já teve acontecimentos inconcebíveis do ponto de vista de muito sofrimento para uma garota, mesmo assim, ela possui um desejo inexorável de que tudo dê certo. Apesar de muitas dores, ela é enérgica, perspicaz, transbordante de ideias e expectativas. Com paisagens campestres e frio canadense, as cenas encantam a todo momento. De tranças vermelhas e expressivos olhos azuis, a desajustada e imaginativa Anne nos envolve no século XIX através de uma fotografia de filmagem incrível. Mas voltando ao nosso cotidiano, a série quase ficou na segunda temporada por falta de audiência. Os fãs de Anne do mundo todo se mobilizaram e fizeram um abaixo-assinado para a produtora, e daqui a pouco eles serão surpreendidos mais uma vez pela linda Anne. Enquanto isso, o mundo fica com mais do homem primitivo, que é o que tem pra hoje, como se costuma ouvir. Já que o homem é tão sábio de si a ponto de querer saber o que acontece depois do fim, e não quer saber o por quê acontece o fim, é com seriados de fim do mundo mesmo que se permanece. O indivíduo não tem acordado agradecendo por poder acordar, mas ansioso para dizer ao vizinho: “eu avisei!”. E dessa maneira avistar seus inimigos sendo devorado por um amontoado de zumbis.

 






quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Um Leviatã meio torto

 

A discussão sobre a redução da maioridade penal.  O argumento pretende reduzir a maioridade penal para certos casos. Em muitas opiniões de especialistas do direito penal, a proposta é inconstitucional, pois se vale da tentativa de modificar cláusula pétrea da Constituição de 1988, que trata dos direitos e das garantias fundamentais, e ofende juridicamente os tratados internacionais sobre os Direitos Humanos das Crianças e Adolescentes. Também entra em discordância do Pacto de San José da Costa Rica, o pilar dos Direitos Humanos nas Américas, que também é chamado de Convenção Americana dos Direitos Humanos (CADH). É um tratado da OEA (Organização dos Estados Americanos), que entrou em vigor em 1978, atualmente é uma das bases dos sistemas interamericanos de proteção dos direitos. Os países que assinam os tratados tornam-se signatários e não lhes é permitido fazer uma legislação em sentido oposto, por isso alega-se que ela retroage dessa forma. De nada adianta dar direitos humanos àqueles que agem com terror, punindo a sociedade toda por carências que ele adquiriu, sim são inúmeras, mas não foi o motorista do ônibus metropolitano que cruza a Linha Vermelha no Rio de Janeiro que fomentou sua fome e sua miséria humana, não foi também o senhor aposentado que passeia em Copacabana, depois de uma vida toda fechado numa repartição pública, pagando todos seus impostos para que houvesse segurança.  Mas sim, uma abordagem desumana e cruel somente vai agregar vingança e segregação a eles. Não possuem estudo, não possuem preparação para o trabalho e seus laços afetivos são vulneráveis, ou seja, não há esperança em uma vida digna e tampouco o sentimento de que pertencem a uma comunidade, o que lhes dá cada vez mais a chance de retornar às práticas de delito, cometendo atos de violência contra tudo e todos e se agregando a facções criminosas, pois à primeira vista, são elas que os fazem ter a sensação de pertencimento a algum grupo ou corpo social. Esses adolescentes “prediletos” da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), anteriormente chamada Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM), possuem cor, classe social e endereço certos: pobres, black people e habitantes das periferias. Reduzir a maioridade penal é responder uma questão complexa. Além de reduzir a maioridade penal se deve reduzir a violência cotidiana na sociedade. O que reduz a violência em um país é investimento em educação, moradias saudáveis, oportunidades iguais de trabalho e muito poder aquisitivo. Eles precisam saber sim o que é certo e o que é errado. Essa parcela da população, claro, deve ser responsabilizada pelos seus atos, mas deve ser incluída no Estado, no âmbito da segurança pública. Os adolescentes devem ser protagonistas dos seus atos, mas antes disso, mostrem-lhes educação de qualidade desde a infância, uma comunidade longe do crime, do tráfico de drogas, da violência e do preconceito. Antes disso, mostrem-lhes oportunidades de trabalho, condições de vida salubre e a cor do dinheiro limpo. Não se pode fazer justiça a quem tem enfrentado a injustiça somente. Ou se acostuma por mais quarenta anos a cantar com naturalidade a música “O meu guri” (1981), na qual diz:  ´Chega estampado, manchete, retrato, com venda nos olhos, legenda e as inicias. Eu não entendo essa gente, seu moço, fazendo alvoroço demais´. E se acostuma a imaginar ser fato inalterado e biológico essa condição do menino vadio e do seu Leviatã meio torto, meio sinuoso, meio Macunaíma.

 PS: Leviatã é o Estado como soberano, autorizado através do pacto social dos homens. Leviatã - Thomas Hobbes.

Nas profundezas do rio

 

 

O vazio que me deixaram. Necessidade do perdão e da gratidão. Por que se vive? Por que é difícil perdoar? Sentei-me à beira do rio, naquele banco encardido pelo tempo, fiquei a observar a água clara e a correnteza que levava tudo adiante. Como se não sentisse culpa ou pesar, ele corria banho afora, numa destreza esperta e invejável. Passava sob a ponte e de repente as águas que havíamos visto já nem estavam mais ali, haviam se escorrido diante de uma perspectiva hercúlea de jamais voltar à pedra passada, à ponte que passou, à mata que deixou. O vento gelado balançava meus cabelos compridos, o casaco de tricô de cor verde-árvore me deixava calorosa frente ao frio da brisa e da vida. Uma obscura onda de sentimentos mal processados dentro de mim tomou espaço no meu coração e meus olhos choraram uma solidão inescusável, sim, eu estava sozinha, perpetuada em um grande vazio branco, de onde se sente a ausência de tudo. Chorei soluçando uma angústia deslavada, sem ao menos pensar que poderia chegar alguém e presenciar a fraqueza das minhas acrimônias. Não havia nenhum conforto, minha alma se sentia despovoada, como se num retiro em um deserto, não havia consolo, não haviam afagos, um colo ou um resguardo sem cheiro de remédio. Eu estava sozinha e dilacerada em dores. Aquele vazio que me deixaram... Por que era tão difícil esquecer? Por que o abandono me fazia ter raivas e amarguras tão penduradas em meu pescoço que eu até andava curvada da coluna? Por que eu relutava em perdoar e voltava sempre às mesmas angústias, à mesma ébria dor de ter sido deixada de lado como se fosse uma boneca esquecida por uma jovem adolescente? Olhei para o rio e desejei ser ele, desejei ser toda aquela água imensa e certeira, que não titubeava frente ao passado, que corria e escorria mundo à frente, contente em sempre seguir adiante. Por que viver era uma obra tão rebuscada, tão repleta de travas escusas, por que a visão dos olhos era tão nevoenta? As brumas do oculto significado da vida levava tanto tempo para apreender que quando se pegava, nada mais fazia algum sentido. O certo era ser como o rio, mas eu era humana na sua forma mais primitiva e simplória do ego, o certo era ser rio, mas o que eu podia fazer? Parei com o choro espalhado, sequei as lágrimas e me aproximei. E se eu me fosse com toda a correnteza? Eu seria rio também? Mas o ser humano jamais poderia ser o rio, afastei-me cautelosamente e pensei que, mesmo rodeada de abandono e solidão, mesmo sem ter alguém no mundo para me abraçar e dizer que alguma coisa ficaria bem, a obra rebuscada da vida requeria imensa seriedade. Essa vida não era brincadeira, tudo teria que ser levado muito a sério, e embora sozinha, solitária, esquisita e sôfrega, havia um lastro que me alicerçava, era o banco encardido da margem do rio, era meu casaco de tricô verde-árvore, eram meus cabelos compridos, o vento no rosto, o cachorro que latia, o carro à minha espera, os ponteiros do relógio que trabalhavam sem diáspora, o computador que se ajeitava ao meu toque, os travesseiros acolhedores para um final de dia. Pensando assim, eu fui como o rio, entrei no carro e segui adiante. O trabalho que me esperava, o gatinho adotado, o relógio de brilhantes conquistado, o novo corte de cabelo, os quilos mais magros. A neblina parca do meu exílio em espírito ainda cravava em mim. mas não deixei de achar que eu era o rio, mas o rio não tinha sorrisos, nem gargalhadas, nem café com pão de queijo. Eu pensaria que mesmo assim, envolta a um desgostoso amargor negro da solidão, das perdas e das angústias, da inquietude e da desolação, eu sabia que eu não poderia ser o rio, mas eu persistiria, e tentaria todas as vezes em que o tijolo pesado do desconsolo que habitava meu vácuo despejasse a tristeza e o vazio dentro de mim. Eu tentaria ser o rio, mesmo que as acrimônias me carregassem rio acima, eu faria um esforço maior para me escorrer rio abaixo. E depois, olharia tudo o que envolvesse sentir ou tocar, e agradeceria do fundo do peito que, melhor que ser rio e escorrer, era poder caminhar para esquecer, para sentir, para ter ternura, para respirar fundo, para correr e abraçar, para atravessar a rua, para olhar em volta, porque o rio corre, mas a gente, a gente vive.  





                                             
 

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Pausa para miudezas


O que é bom para a vida é conversar com os vizinhos, pisar em cascas secas de sementes de árvores, sentir o vento bem frio de manhã causado pelo orvalho do outono, e até mesmo, se irritar com a luz do sol que está batendo exatamente no banco da praça em que está sentado. Também sentimos os pequenos prazeres em cumprimentar alguém na rua que não conhecemos, mas que de repente, sentimos de alguma maneira que é um velho e querido conhecido, do qual nunca nos esquecemos e o qual nos dá vontade às vezes até mesmo  de abraçar fortemente. Gostoso também é aquele copo bem fresco de água no verão escaldante, quando não estamos mais aguentando caminhar pela rua ensolarada de sol bravo, ou respirarmos o ar gelado do freezer da sorveteria para escolher o sabor de uma simples bola de sorvete. Algumas pessoas também sentem enorme gosto de colocar um cardigan felpudo à noite e passear pelo jardim iluminado pelas luzes claras de led, observar as crianças pulando, as moças de shorts cada vez mais curtos e os casais se preparando para enfrentar a grande batalha a dois ao longo da vida. Também o bom da vida é tirar o stress olhando vagamente para os rios e ribeirões distribuídos pela cidade, mesmo que eles não sejam paisagisticamente bem cuidados como deveriam ser e como vemos pelos rios chics europeus, fixar o olhar na corrente da água e permitir que o fluxo vá com toda nossa preocupação e tristeza, isso nos ajuda, mesmo que demore um pouco, pois o stress se acumula com o tempo, e a calmaria é uma salvação que se alcança também com certo tempo. Um outro lado bom das nossas vidas é naquelas noites em que estamos distraídos, e ao fechar a janela do quarto na hora de se deitar, olhamos para cima e nos deparamos com tantas estrelas, tantas e tantas, que não nos cabem olhos para admirá-las. Têm pessoas que acham maravilhoso observar orquídeas quando elas brotam em suas beldades exibicionistas e puras, outras gostam do vento gelado cortando a face, outros de serem torrados no sol até mudarem de cor. Às vezes gostamos de falar mais, às vezes preferimos permanecer observadores, atentos aos olhares e aos sentimentos do outro. Uns gostam de falar em fé em Deus, outros optaram por provar sua inexistência na física, na biologia, na filosofia. O lado bom da vida não se prepara, não se organiza e nem custa muito, geralmente ele não nos custa nada, a única coisa que devemos fazer é deixar ele aparecer. O lado bom da vida é o que é para cada um, ele aparece repentinamente de um jeito surpreendente que nos deixa alegre, extasiado ou com a alma leve. Esses momentos são de certa maneira tão raros, mas demasiadamente feitos de simplicidade que não se explica. Cada um tem seu jeito de gostar do lado bom da vida. Mas é bom que se saiba que o lado bom da vida não tem preço. Se tiver que comprar por muito, o lado bom não está valendo nada.

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Os novos prisioneiros da liberação excessiva migratória pós URSS

As mudanças na situação política e econômica na Europa Central e no Leste europeu se deram principalmente depois da década de 1980, quando um fluxo inesperado de refugiados buscava oportunidades diferentes da fraca condição econômica dos países da URSS e Iugoslávia. Países como a Polônia e a Hungria foram os principais países de origem para admissão desses refugiados e de procura inicial para asilo.
Esse fluxo encontrou na Polônia e outros países de asilo, territórios despreparados para receber tais demandas na região. Desde então, a Polônia tem desenvolvido esquemas e projetos sobre as leis do refugiado para melhor lidar com a situação. Essas mudanças jurídicas foram tanto no âmbito internacional como nacional.
Juntamente das tentativas de melhoria nas leis internacionais, a Polônia resolveu ratificar as normas da Convenção de 1951, assim como analisar tratados bilaterais dos membros do Estado Europeu. Países que também tomaram essas mesmas medidas para estudar o desgaste territorial causado pelo fluxo repentino de imigrantes foram a Alemanha, a República Tcheca, a Ucrânia, a Eslováquia, a Romênia e a Bulgária.
Na Polônia até então, a Corte Constitucional reconhecia que os direitos dos estrangeiros seriam como os direitos dos habitantes nacionais, e qualquer estrangeiro poderia se registrar na competência administrativa local depois de três dias que entrasse no país, isso aumentou ainda mais o fluxo de refugiados nessa direção. E de determinada época pós URSS, o fluxo migratório se transformou de europeus do leste para africanos e da população do Oriente Médio.
Atualmente a Polônia registra verdadeiros campos de refugiados presos ao redor de arames farpados, abrigados em tendas improvisadas,  recebendo refeições racionadas. Deste círculo de arame o refugiado que entra dificilmente consegue sair para alçar voo em outras localidades da Europa. São proibidos de receber familiares, e apenas pessoas autorizadas do governo podem entrar, nada de jornais ou registros fotográficos.
Ainda outra medida foi tomada, a decisão de expulsar estrangeiros indesejáveis caso cruze a fronteira ilegalmente, em caso de ofensa à Polônia ou que represente perigo para a  mesma. A expulsão do refugiado fica a partir da necessidade de proteger a segurança nacional da ordem pública.
Com o fluxo demasiado de imigrantes, já no final da década de 1990, os países de asilo se reestruturaram juridicamente para que suas emendas e constituições restringissem imigrantes ilegais ou indesejáveis. As medidas foram uma intenção de proteger suas fronteiras, o ódio nacional, a xenofobia crescente, as críticas da extrema direita, o terrorismo e o descontrole regional.
Embora houvesse um vasto desejo de dar asilo e apoio, a Europa no começo do século XXI se viu sem infraestrutura suficiente para lidar com o número migratório crescente e caótico nesses territórios. Desde então, o mundo presencia a luta de refugiados políticos, ambientais, de xenofobia cada vez mais presente nos nacionalistas e a tentativa de ter jogo de cintura diante de todo esse caos que está se tornando crônico no século XXI. Abertura em excesso foi constatado através de fatores políticos e econômicos que não é viável. Mas deve haver diálogo global, pois o caos já foi lançado e é preciso abrir mais espaços para soluções.

A ilusão das aparências do escritor aristocrata


Nascido em 1912 nos Estados Unidos, John Cheever foi um contista cujos contos são até hoje considerados um fenômeno editorial. A revista “Time” referiu-se às suas obras como uma das mais importantes no mundo atual,  o “New York Times” descreveu-as como um dos maiores acontecimentos na literatura inglesa e já foi chamado de Tchekhov americano pelo seu talento, não que isso seja uma verdade, pois o escritor russo é único em sua literatura. Morou em um bairro de classe média alta em Nova York, casado, rico, vindo de família anglo-saxã e puritana, se orgulhava de ser descendente de uma linhagem aristocrata. Ele mesmo escreve que havia herdado “o nariz, a cor branca da pele e a promessa da longevidade”, por conta do sangue aristocrata. Mas depois de sua morte, sua história de vida verdadeiramente se desvelou, e seu público elitizado e conservador  descobriu por meio de seus diários , que totalizavam 29 cadernos, a verdade de John Cheever: possuía uma vida demasiadamente ambígua. Muito distante de ser o homem branco de classe alta, aristocrata, modesto, pai de família, com casamento duradouro e exemplo para seus leitores da elite, revelou-se em mais de 4 mil páginas de diário que era na verdade, angustiante, alcoólatra agressivo, um verdadeiro demônio em forma de homem que atormentou a mulher e os filhos, abusou de dezenas de amantes de ambos os sexos e escondia dos círculos sociais sua homossexualidade. Além de que seus diários revelaram uma relação incestuosa e carnal com seu irmão mais velho. Apesar de ter sido considerado um talento inato e revelação na literatura inglesa, era também visto como medíocre e esnobe pelos mais próximos. E com a publicação de seus diários depois da sua morte, leitores e admiradores do inestimável conservador aristocrata ficaram horrorizados e perplexos com a revelação da sua homossexualidade, do alcoolismo, dos abusos, do mundo obscuro da sua vida e de sua família ao redor. A obra bibliográfica causou repúdio, descrições em detalhes de cenas de sexo e abusos, o seu ódio aos homossexuais, apesar de ser um deles, o tormento na vida da mulher e dos filhos, sua máscara de homem alegre, da boa vida em família e de suas virtudes caiu pesadamente no chão. John Cheever é um dos grandes exemplos a serem tomados por nós de que não se deve permitir a ilusão das aparências, da fala, da boa oratória, da riqueza, das grandes casas, da aristocracia, do sangue nobre, da fama ou do sucesso de alguém. Vivemos hoje em um mundo de deslumbramento total, o pior homem do mundo se torna digno quando está cheio de dinheiro, mas é difícil a gentileza na simplicidade. O nosso sol se tornou o glamour dos bens materiais, mas como na verdadeira história de John Cheever, esse sol pode esconder uma obscuridade inimaginável. A verdade é que seria muito melhor para nós que pudéssemos enxergar desde o início da vida a alma e o coração dos outros, além do sorriso, do sucesso e de todas as artimanhas que oferecem. Conhecer a história de John Cheever me deu medo, me fez desconfiar de coisas que são estabelecidas, ou que aparentemente são conservadoras demais, e me deu muito mais medo dos preconceitos. Me causou ainda mais repúdio de pessoas violentas e da demagogia, pois a pessoa que odeia é o próprio ódio em si mesma. John Cheever quando é desmascarado por seus próprios diário depois da morte se tornou um grande exemplo do que não ser. Estabelecer clareza nos nossos sentimentos e maneira de pensar ajuda tanto a nós mesmos quanto o próximo que precisa de luz no caminho. Essa luz não é do sol, nem da fama, nem das riquezas, é a luz que brilha de dentro e sai refletida na transparência dos olhos. 



A ditadura de anticristo se chama Revolução da Luz

Busquei a coragem do lado de fora do quadrado, que era a janela pequena do quarto azul e gelado, algumas mulheres, Escabosa, e uma órfã. A t...