quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Pausa para miudezas


O que é bom para a vida é conversar com os vizinhos, pisar em cascas secas de sementes de árvores, sentir o vento bem frio de manhã causado pelo orvalho do outono, e até mesmo, se irritar com a luz do sol que está batendo exatamente no banco da praça em que está sentado. Também sentimos os pequenos prazeres em cumprimentar alguém na rua que não conhecemos, mas que de repente, sentimos de alguma maneira que é um velho e querido conhecido, do qual nunca nos esquecemos e o qual nos dá vontade às vezes até mesmo  de abraçar fortemente. Gostoso também é aquele copo bem fresco de água no verão escaldante, quando não estamos mais aguentando caminhar pela rua ensolarada de sol bravo, ou respirarmos o ar gelado do freezer da sorveteria para escolher o sabor de uma simples bola de sorvete. Algumas pessoas também sentem enorme gosto de colocar um cardigan felpudo à noite e passear pelo jardim iluminado pelas luzes claras de led, observar as crianças pulando, as moças de shorts cada vez mais curtos e os casais se preparando para enfrentar a grande batalha a dois ao longo da vida. Também o bom da vida é tirar o stress olhando vagamente para os rios e ribeirões distribuídos pela cidade, mesmo que eles não sejam paisagisticamente bem cuidados como deveriam ser e como vemos pelos rios chics europeus, fixar o olhar na corrente da água e permitir que o fluxo vá com toda nossa preocupação e tristeza, isso nos ajuda, mesmo que demore um pouco, pois o stress se acumula com o tempo, e a calmaria é uma salvação que se alcança também com certo tempo. Um outro lado bom das nossas vidas é naquelas noites em que estamos distraídos, e ao fechar a janela do quarto na hora de se deitar, olhamos para cima e nos deparamos com tantas estrelas, tantas e tantas, que não nos cabem olhos para admirá-las. Têm pessoas que acham maravilhoso observar orquídeas quando elas brotam em suas beldades exibicionistas e puras, outras gostam do vento gelado cortando a face, outros de serem torrados no sol até mudarem de cor. Às vezes gostamos de falar mais, às vezes preferimos permanecer observadores, atentos aos olhares e aos sentimentos do outro. Uns gostam de falar em fé em Deus, outros optaram por provar sua inexistência na física, na biologia, na filosofia. O lado bom da vida não se prepara, não se organiza e nem custa muito, geralmente ele não nos custa nada, a única coisa que devemos fazer é deixar ele aparecer. O lado bom da vida é o que é para cada um, ele aparece repentinamente de um jeito surpreendente que nos deixa alegre, extasiado ou com a alma leve. Esses momentos são de certa maneira tão raros, mas demasiadamente feitos de simplicidade que não se explica. Cada um tem seu jeito de gostar do lado bom da vida. Mas é bom que se saiba que o lado bom da vida não tem preço. Se tiver que comprar por muito, o lado bom não está valendo nada.

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