quinta-feira, 29 de junho de 2023

Se estiveres feliz venha me ver

 

 

E

ra uma vez, um Dragão vermelho-ladrilho e uma comunidade global, alguns pequenos dragões coloridos e pássaros de todas as cores, em especial tucanos verde-amarelo. Dragão vermelho-ladrilho era de cultura antiga, tradicional, cheia de forças e luta de sobrevivência, igual da cor dos ladrilhos vermelhos e antigos que estendiam tapetes em varan
das. Ele agia tão sabiamente que nem mesmo a dúvida reluzia em quem o visse, e como nuvens de seda ao redor do mundo, colocava nas mãos do povo, o poder de escolha, compra e tecnologia. O Dragão habitava a essência do interior do Globo e vivia arrebatadoramente em meio a holofotes externos de seus focos, estradas e rotas afora. Quando subia as escadas para chegar ao topo da Cordilheira, vinha vestido de lembranças ocultas dadas à China no vapor do ópio. Mas no segundo milênio do sul do ocidente, os túneis fomentados à tecnologia e velocidade pareciam lapsos de raios em neon, azuis, violetas e rosas pela eternidade do encontro diplomático entre os tapetes de negócios Brasil-China, Ásia Central e Sul asiático.

Ao tentar ouvir o barulho dos carros em trânsito, só se ouviam ondas cintilantes da rapidez dos metrôs, ônibus e trens. Havia de sentir nas narinas o suave perfume dos antioxidantes de uma cidadania saudável ao horizonte. Estendeu-se um pouco mais ao Oeste e dessa maneira, o Dragão assoprou demasiada ventania educacional e preparatória, as comunidades do Dragão vermelho-ladrilho pertenciam à humanidade e seus habitantes se tornavam, com o contar dos dias, cada vez mais humanizados.

Ao observar com os olhos amarelos de sol, o Dragão suplicou por sossego, um pouco mais, encheu seus pulmões de ar, de oxigênio e de lá do miolo, soltou sua respiração, esbaforindo suor de trabalho, democracia, igualdade, magia do consumo, inteligência, a boa estirpe da educação escolar, familiar, horizontalidade às desmedidas e um romântico elixir da longa modernidade estendida no caminhar que flutua assertivamente ao futuro, de mãos dadas aos dragões de todas as cores que habitam o Planeta.

Dragão vermelho-ladrilho percorria oceanos desbravando mercados e sociedades e, enquanto isso, um tucano verde-floresta viu o desbrochar da flor de peônia no lugar de barricadas, lotados de lástimas passadas juntamente a soldados com ópio. Tucano baixou, fez vídeo, aprovou e brilhou onde “Aqui a geral brilha”, slogan do aplicativo KWAI que viralizou nos últimos anos. O pássaro colorido aflorou em sua memória os pontos nostálgicos sobre adolescência latina, sul-coreana, brasileira, oriental e asiática em geral. Como foco de governo, o tucano verde-floresta considerara muito importante o trabalho da China em relação à economia nos últimos trinta anos. Isso, ele imaginou ser uma moderna e séria política social de inclusão.

Em outros mares e por outras palavras, o Dragão vermelho-ladrilho havia sido notado por suas linhas políticas, econômicas e antropológicas, tamanho era o interesse e curiosidade do dragão rubro de conhecer horizontes a novos nortes. Tucano verde-floresta assistia pelas telas do KWAI (aplicativo de interação social, sucesso no Brasil) no topo da árvore, as missões chinesas, as fofocas de economia, política, etc., e notara que pronunciar o “silk belt", era percorrer um caminho translúcido e fluido pela Eurásia. Enfim, grandes e pequeninos dragões de todas as cores passaram a enxergar como seria a economia chinesa – esclarecedora, inovadora e diferente.

Tucano verde-floresta e dragões de todas as cores haviam percebido que, no terceiro milênio, a independência intelectual, inovação, ideias, projetos e atitudes deveriam ser livres de obstáculos, também deveriam ser dedicados às pesquisas humanizadas e ao idealismo avançado, aquele que é de avanço em nome próprio.

Atualmente, pessoas, dragões e tucanos que se importam  com a interação global – e não mecânica de globalização – e se dedicam ao poder de compra, à democracia do consumo, à inteligência humana, artificial de digitalização, pesquisas de conflitos, armamentos e desarmamentos têm acrescentado novos horizontes além do cansaço mental frente à exploração da capacidade de consumo do povo comum. Ou seja, aqueles que não possuem fácil acesso ao mercado.

Além do mais, o tucano verde-floresta entendia que o dragão vermelho-ladrilho tentava estimular a integração da economia, tanto entre Eurásia – profunda cooperação –  entre UE, e aliás, o resto do globo. Dragão vermelho-ladrilho sorriu do topo do Himalaia, onde estava coberto de neve e viu que a Rota da Seda estava em desenvolvimento comercial com outros países, e respirou aliviado pelas narinas aguçadas. Mas o que enlaçaria as ondas da globalização seria um fator invisível no que diz respeito ao mutirão da massa global consumista e acelerada continuamente: O dragão havia começado a lidar com o mercado global, e se estendia por mares afora pela persevarança de negociações.

Ele balançou a cauda vermelho-rubro e de brilhante, abriu suas asas mantenedoras e circulou o mundo, fazendo com que mercadorias aparecessem em maiores e largas escalas. Então, o poder de compra passou a ser maior para muita gente, inclusive para o tucano verde-floresta que jamais teve condições de ter mais sapatos, mais blusinhas, mais tênis ou mais maquiagem. Diria isto o tucano em cores: nunca havia tocado com as mãos num frasco de perfume importado!

Tucanos de todas as cores estavam se entregando à nostalgia de quando jovens, pequeninos ou adolescentes. “Eu não tinha perfumes!”, dizia uma cor; “eu nunca havia visto tantas maquiagens!”, exclamavam outras tonalidades, “dezenas de brincos”, “uma grande variedade de roupas”, “canetas escolares!”... Hoje um tucano ou uma tucana poderia ter até mesmo mais de um perfume importado no armário – diante disso se percebia a importância da produção da China –  no miolo do Planeta, o Dragão vermelho-ladrilho dormia em cama de esperança no olhar do horizonte, flutuando sobre travesseiros repletos de patos-mandarim,  mantas cintilantes de flores de orquídea e lótus, que brilhavam como zircônia.

Ele, dragão, sentia o espírito, era espiritualizado, sem jamais ter sido religioso. Sua luta à subida no topo da montanha, depois de um século e meio dos pesares da Primeira e Segunda Guerra do Ópio, havia deixado os dragões coloridos entristecidos diante das lástimas envoltas às trincheiras. Entre lutas, guerras, fortes e fraquezas, imaginavam um caminho melhor a seguir no futuro, na própria autoaprovação da exímia capacidade inovadora; os chineses cerraram os punhos para enfrentar outras adversidades da vida, mas dessa vez, o Dragão havia cerrado os punhos junto. Ao sair às ruas comprar, pensou que era extremamente importante uma grande diversão, por isso, os produtos deveriam ser acessíveis. E se milhares de jovens e adultos conseguem retornar às casas com compras, é sinal de que o capitalismo e o mundo globalizado só dão certo assim! O tucano percebera que a réplica da capinha do seu iPhone era idêntica à original, então, tecnicamente, ela seria também de uma origem singular.

O mundo é um crescimento, e estar no mundo requer crescer com ele e para ele; se um dia chegaram à liberdade de expressão e noutro chegaram à democratização de poder de compra, é bem provável que dragões, tucanos, peônias, orquídeas, lótus, patos-mandarim e todas as cores, se agirem em prol dos novos horizontes, desbravarão ainda muitos mares além dos oceanos. Até agora, reinventaram e criaram sociedades e economias cada vez mais esclarecidas, com raízes e veias fortes que vêm e permanecem.

Dragões e tucanos com olhos de rapinas, belos bandos de patos-mandarim em horizontes aos nortes atentam a qualquer movimento. E como dragões de todas as cores, não estavam apenas para a caça do mero produto, mas sim algo com muito mais significado: uma mercadoria de sua personalidade. Com isso, cresceram para entender que não é exatamente disputa, e sim interação social. E o mundo não é uma competição à toa… Como comentaria um conto popular: “O que é mais importante,” perguntou o Grande Panda, “a jornada ou o destino?” “A companhia.” Disse o Pequeno Dragão. Então, o importante diante da rotina não seria exatamente a caça em si, muito mais importante é o prazer, o momento, o interacionismo simbólico e social, a história, a compra on-line do dia, o conto daquele momento, os dragões, o tucano, patos e peônias. Assim como o Dragão vermelho-ladrilho, dragões, cores, mandarim e revoadas de tucanos, de patos, seriam capazes de fazer boas ações nos planos sociais e econômicos, pois a rampa para se levantarem um dia, levaram a um novo tipo de comércio, com grandes aspirações. E assim caminharão dragões e voarão pássaros e patos de todas as cores, sonhando ao longo dos trens de luzes, de cheiros de antioxidante e de barulho pacificador nas ruas. Sonhando livres, voando alto, escolhendo e optando por cada particularidade de pedaços desses sonhos que o capitalismo e a globalização devem oferecer a todos.

Quando o sol de Londrina veio me ver

E

ra um dia calmo, dentro das perspectivas da vida. Havia chovido muito, mas o vento era brando, não chegava a ser uma tempestade tropical, apenas uma frente fria que pela previsão meteorológica duraria alguns dias. No entanto, lá pelas quatro horas da tarde, o sol veio iluminando tudo, pouco a pouco as nuvens corriam para outro oeste, abençoando qualquer pomar pelos interiores adentro. Isso forçava as pessoas a fecharem os guarda-chuvas e a se despirem um pouco dos casacos que as protegiam do tempo úmido. Nos locais de grande concentração urbana, juntavam-se desassossegados os grandes homens da vida, aqueles que labutam no dia e morrem de cansaço na noite, que depois de um desabafo sôfrego para as suas madamas enfeitadas de batom vermelho e brincos de argola, esqueciam-se dos pesos de seus patrões e adormeciam quase feito anjos.

Hanna estava envolta a uma terrível solidão, daquelas que não se alcança normalmente. Pendurada em seu vestido cor de abacate, ela amargurava o ódio da vida, o ansioso fantasma obscuro que a fazia perder o ar. Tentava respirar, mas não conseguia. Era fatalmente uma crise da sua alma tão dolorosa que ficava à espreita, aguardando o momento para adentrar o corpo biológico e fazer sua criatura sofrer de espasmos neuróticos. Sua falta de ar a deixava  tonta e sem forças, tentava não pensar nisso e se transferia aos problemas do mundo, o quanto talvez, as crianças de Chernobyl sofriam mais do que ela. “Ao menos elas sofrem em coletividade, isso acalma e é melhor do que sofrer sozinha no mundo. Em mim, em nós, é cada formigueiro e uma formiga.” Deus fingia não gostar de Hanna quando ela refletia, ele a compreendia, mas não podia falar nada.




A ditadura de anticristo se chama Revolução da Luz

Busquei a coragem do lado de fora do quadrado, que era a janela pequena do quarto azul e gelado, algumas mulheres, Escabosa, e uma órfã. A t...