O bom estadista
Sempre que há ao menos
seis ou sete músicos em um país que saibam tocar harpa em qualquer lugar do
mundo, deve-se ter a certeza de que aí, há um bom estadista.
Quando existem ruas,
calçadas limpas, salubridade urbana, praças públicas, estéticas originais, ou
seja, sem as aberrações semi-futuristas old fashion da bagunça inapropriada do submundo
ocidental e do extremo sul do ocidente, espaços públicos bem utilizados, aroma
de ar inoxidável pelo ambiente a se estender interior afora, há aí um bom
estadista.
Se houver segurança
máxima, mafiosos sem o poder de comprar um pão francês nas padarias londrinas, poder
aquisitivo de túneis de energia, tubos subterrâneos até à China, com certeza
teremos um bom estadista.
Se existe um território
apropriado para esconder às sombras de cem metros de neve, um criminoso de
guerra, um violentador, um traidor da pátria, ou qualquer aberração que houver
no país, ali com certeza há riqueza indubitavelmente próspera e inacabável.
Com um estadista de mais
de trinta metros de altura, esquálido, ordinário, mas não ganancioso, e sim que
luta na ambição para restar na memória do povo uma vida cheia de fronteiras, brigadas,
barricadas, ciúmes, mal olhado, raios de maldições, intenções de assassinatos
de vinte famílias no mesmo mês que foram mortos em envenenamento por aquecedor
à gás, aí existe a inveja de lado a lado, leste a oeste e sul ao sul de uma
nação com um bom estadista.
Se há um rei pequeno,
ganancioso, um gnomo, um anarquista irritante e desmedido em apresentações circenses,
um publicitário na área mundial dos direitos humanos, há de se desconfiar que
ao seu lado existe o perigo de um bom estadista e a quebra de uma nova era.
Se puder por vias não
escusas, habitar no país uma flor, uma árvore, duas ou três putas, um ourives, uma
obra de arte, um prédio de vidro blindado que brilha como zircônia, um
trabalhador longe à margem do lupem, haverá um bom estadista.
Em uma democracia sustentável
e moderada, uma tentativa de envenenamento, dezenas de drinks provados com
gostos completamente incomuns, um escorpião nas costas e um sorriso pavoroso de
ver suas vias claras, limpas e grandemente torrenciais em tamanho, se transformando
numa praça raivosa e esfaimada, cheia de guerra e sangue, existe aí um esforço
enorme em cocriar tradições diferentes de antigos golpistas, e lutar por Tchecov.
Com um terno azul marinho
no meio, chapéus pretos em volta e uma capa preta de veludo que se esvanece e
se envolta sempre à mesma ambição, ao mesmo telefonema preto, a uma Glasnot
diferente, a um cercado vermelho de sangue sujo e faminto com arames farpados in
memoriam, livros de capa dura com mil páginas, médicos que se transformam em
escritores para sobreviver e ter família, um tributo a uma dinastia humilde,
desavisada, ingênua, com mãos estendidas em longínquos braços, gente oculta uma
a outra, pessoas fortes com pele saudável, distribuição de violinos para uma
comunidade sem olhar o bolso individual, vai haver uma música estridentemente
afiada e aguda em grave, que ali existe um porco, um corrupto, um tirano.
Mesmo assim, não seria
fácil acontecer um bom estadista, mesmo que aos quinze anos, ele começasse a
degustar uma diversidade de venenos para saber distinguir e beber um drink, uma
coca-cola, um guaraná, um café, um chá, um wisk, vodka ou qualquer licor de
chocolate que existe por aí.