terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O que ver em série


Quem ainda nao sonhou com E.T.s, ou que estava rodeado de zumbis, não sabe o que é finalmente chegar no século XXI. A nova era que tanto almejávamos na década de 90 está sob os nossos pés exageradamente cheia de novidades. A digitalização global é uma realidade fixada, chegou para ficar, assim como a eletricidade e a água encanada. Nessa semana que se passou, veio a óbito o padre Quevedo, parapsicólogo e ajudante de limpeza da ignorância de todos nós, humanos, que acreditamos em qualquer bobagem que julgamos ser conveniente acreditar. Talvez por estar muito velhinho ele havia se desvinculado das aparições televisivas, jornalísticas, fantásticas. E fez falta na última década. Também pode ter se desvinculado por perceber que o ser humano está muito mais preso e agarrado a ondas de acontecimentos que deposite nele uma perturbação de desentendimento primitivo. É isso está sendo permitido acontecer com uma sucessão produtiva de séries cada vez mais impressionantes sobre o Apocalipse, o último livro do novo testamento das Escrituras Sagradas. Cada série com o devido teor de fantasias e medos, cada vez mais obscuras, fantásticas, diabólicas e assustadoras. Somente produziram e continuam porque há quem nota que é o que importa no momento para o homem. Indivíduos perceptíveis inseridos globalmente em massa que pensam demasiadamente em vingança e em si próprio egoisticamente. Netflix e recentemente Amazon Prime vídeo desbancam novas séries sobre diversas teorias do fim do mundo, de guerras de todos contra todos, de zumbis, de alienados. O telespectador está embebedando dia após dia de fantasmagóricas hipóteses sobre um futuro próximo. Recentemente foi confirmada a terceira temporada da série “Anne with an E”, que possui o Best-seller “Anne of Green Gables”, da canadense Lucy Montgomery, escrito em 1908. Lucy contou muito de sua própria história no livro, aos 21 meses sua mãe morre e é rejeitada pelo pai. Na infância sofria de muita solidão, foi criada pelos avós com uma educação rígida e austera. Depois de adulta se forma em literatura e mais tarde publica o livro de repercussão internacional. Anne se tornou símbolo da cultura canadense, trata de temas com os quais lidamos ainda hoje, feminismo, bullying e preconceito. Na série, Anne não perde suas características principais, romântica e inteligente, apaixonada por todos os tipos de conhecimento, extremamente questionadora, uma jovem de treze anos que enfrenta a sociedade patriarcal e duramente ofensiva do vilarejo no qual foi inserida. É uma série encantadora, cheia de pureza humana, de charme e também de muitas críticas aguçadas sobre o nosso comportamento em sociedade. Mas é uma série sem nenhuma presunção, sem quantias enormes gastas em dinheiro. E fala sobre o que precisamos ouvir, põe o dedo no ego da ferida humana, e não fica fantasiando os nossos olhos exorbitantemente com dragões, bruxos, zumbis, vampiros e mágicas. O livro é de arrancar lágrimas de muitos durões, e a série é de deixar a alma leve depois de um dia cheio de atribulações e trabalho. Ao mesmo tempo ela nos dá boas lições sobre as nossas próprias atitudes e reações que às vezes é tão ofensiva e não percebemos. A vida de Anne já teve acontecimentos inconcebíveis do ponto de vista de muito sofrimento para uma garota, mesmo assim, ela possui um desejo inexorável de que tudo dê certo. Apesar de muitas dores, ela é enérgica, perspicaz, transbordante de ideias e expectativas. Com paisagens campestres e frio canadense, as cenas encantam a todo momento. De tranças vermelhas e expressivos olhos azuis, a desajustada e imaginativa Anne nos envolve no século XIX através de uma fotografia de filmagem incrível. Mas voltando ao nosso cotidiano, a série quase ficou na segunda temporada por falta de audiência. Os fãs de Anne do mundo todo se mobilizaram e fizeram um abaixo-assinado para a produtora, e daqui a pouco eles serão surpreendidos mais uma vez pela linda Anne. Enquanto isso, o mundo fica com mais do homem primitivo, que é o que tem pra hoje, como se costuma ouvir. Já que o homem é tão sábio de si a ponto de querer saber o que acontece depois do fim, e não quer saber o por quê acontece o fim, é com seriados de fim do mundo mesmo que se permanece. O indivíduo não tem acordado agradecendo por poder acordar, mas ansioso para dizer ao vizinho: “eu avisei!”. E dessa maneira avistar seus inimigos sendo devorado por um amontoado de zumbis.

 






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