A discussão sobre
a redução da maioridade penal. O argumento pretende reduzir a
maioridade penal para certos casos. Em muitas opiniões de especialistas do
direito penal, a proposta é inconstitucional, pois se vale da tentativa de
modificar cláusula pétrea da Constituição de 1988, que trata dos direitos e das
garantias fundamentais, e ofende juridicamente os tratados internacionais sobre
os Direitos Humanos das Crianças e Adolescentes. Também entra em discordância
do Pacto de San José da Costa Rica, o pilar dos Direitos Humanos nas Américas,
que também é chamado de Convenção Americana dos Direitos Humanos (CADH). É um
tratado da OEA (Organização dos Estados Americanos), que entrou em vigor em
1978, atualmente é uma das bases dos sistemas interamericanos de proteção dos direitos.
Os países que assinam os tratados tornam-se signatários e não lhes é permitido
fazer uma legislação em sentido oposto, por isso alega-se que ela retroage
dessa forma. De nada adianta dar direitos humanos àqueles que agem com terror,
punindo a sociedade toda por carências que ele adquiriu, sim são inúmeras, mas
não foi o motorista do ônibus metropolitano que cruza a Linha Vermelha no Rio
de Janeiro que fomentou sua fome e sua miséria humana, não foi também o senhor
aposentado que passeia em Copacabana, depois de uma vida toda fechado numa
repartição pública, pagando todos seus impostos para que houvesse
segurança. Mas sim, uma abordagem desumana e cruel somente vai
agregar vingança e segregação a eles. Não possuem estudo, não possuem preparação
para o trabalho e seus laços afetivos são vulneráveis, ou seja, não há
esperança em uma vida digna e tampouco o sentimento de que pertencem a uma
comunidade, o que lhes dá cada vez mais a chance de retornar às práticas de
delito, cometendo atos de violência contra tudo e todos e se agregando a
facções criminosas, pois à primeira vista, são elas que os fazem ter a sensação
de pertencimento a algum grupo ou corpo social. Esses adolescentes “prediletos”
da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente),
anteriormente chamada Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM),
possuem cor, classe social e endereço certos: pobres, black people e habitantes
das periferias. Reduzir a maioridade penal é responder uma questão complexa.
Além de reduzir a maioridade penal se deve reduzir a violência cotidiana na
sociedade. O que reduz a violência em um país é investimento em educação,
moradias saudáveis, oportunidades iguais de trabalho e muito poder aquisitivo.
Eles precisam saber sim o que é certo e o que é errado. Essa parcela da
população, claro, deve ser responsabilizada pelos seus atos, mas deve ser
incluída no Estado, no âmbito da segurança pública. Os adolescentes devem ser
protagonistas dos seus atos, mas antes disso, mostrem-lhes educação de
qualidade desde a infância, uma comunidade longe do crime, do tráfico de
drogas, da violência e do preconceito. Antes disso, mostrem-lhes oportunidades
de trabalho, condições de vida salubre e a cor do dinheiro limpo. Não se pode
fazer justiça a quem tem enfrentado a injustiça somente. Ou se acostuma por
mais quarenta anos a cantar com naturalidade a música “O meu guri” (1981), na
qual diz: ´Chega estampado, manchete, retrato, com venda nos olhos,
legenda e as inicias. Eu não entendo essa gente, seu moço, fazendo alvoroço
demais´. E se acostuma a imaginar ser fato inalterado e biológico essa condição
do menino vadio e do seu Leviatã meio torto, meio sinuoso, meio Macunaíma.
PS: Leviatã é o Estado como soberano,
autorizado através do pacto social dos homens. Leviatã - Thomas Hobbes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário