sábado, 28 de janeiro de 2023

Cheiro de tristeza com angústia de algodão PARTE II



Dragão de escamas verdes e olhos amarelados chorava desespero e seu suor de medo exalando covardia me deixou irritada.

Por que choras, dragão das neves?

Porque há guerras.

E foi você que fez isso?

Não, de jeito nenhum.

O que você pode fazer para ajudar uma população entorpecida e surtada em pânicos, exaustão e ódio?

Viver mais mil anos adormecido.

Não gostaria disso? De acordar num mundo melhor sem ter que ver tantos sofrimentos que não fori você o artista de toda essa obra escalafobética e irritante de gente que fede a inferno e percorre os quatro cantos da terra para encontrar um botão vermelho dos ortodoxos russos?

Você, dragão de escamas verdes e olhos amarelados, pinte seu rosto de vermelho, desenhe formas de raízes pretas em toda a face, se cobre com uma pele de carneiro, deite no relento perto de uma fogueira que estala as serragens. Tatue na sua pele os símbolos e as cores da sua própria guerra, ande descalço na areia e faça anjos na neve. Acenda velas, incensos em sua volta, coloque canela, acrescente arruda e sal grosso, use ervas xamãs. Ouça o som do vento de sua solidão, logo perceberá que seu coração tem a batida feroz como um tambor celta de ritos mágicos. Fixe seu olho direito no espelho e só sai dali quando souber que ter um, dois ou três olhos, no final das contas, é quase a mesma sensação dos sentidos. Da morte de uma vala me livrei, dragão, quando eu tinha dois anos, terroristas vestidos de carneiros marrons me tiraram do leite materno, torturaram e estupraram minha mãe, ela pedia em desespero, “filha, não olhe, filha, não olhe”... Enquanto um carneiro marrom virava meu rostinho para ela, eu chorava quando via sua cara esfolada, sangrando, arroxeando. O carneiro era esquisito, porque ele ria com isso. Nunca mais vi minha princesa, uma mãe novinha, cheia de conhecimento de vida e da amor para me carregar para o resto das nossas vidas.. Amassavam meus pés enquanto eu estava em choque e não reagia e não chorava. Torturavam meus olhinhos com uma agulha para que eu aprendesse a não ter reação, a não piscar e a não sentir medo. Me bateram, me deixaram suja, cheia de piolhos num cabelo clarinho e lisinho de bebê que só tinha a mãe como referência no mundo. LF foi recrutado para me levar na vala, não era levar exatamente, era jogar abaixo. LF me olhou e fugiu com o coração do pequeno bambi ainda batendo. Sob juramentos e ameaça de morte, meus pais nunca puderam me revelar um segredo tão fundamental para a vida de uma mulher. Asknazi menininha que era, fui criada por uma família de coração Sefaradi, da linhagem de Davi, do último rei da disnastia quando o califado invadiu Israel e nos expulsou. Quero dizer, expulsaram minha família de coração, a minha família que percorre nas veias vieram do holocausto da segunda guerra. Conheci pouco, até assassinarem minha mãe e me tentarem jogar na vala da presença dos ausentes. Hoje não sei minha idade ao certo, trinta e poucos, não tenho documentação, não sei meu nome ao certo, minha mãe nunca me chamava pelo meu nome e ela não queria que eu soubesse o dela. Minha família de coração foi obrigada a ficar comigo, ou ficava ou me matavam. Se fica, é segredo oficial do doi-codi, se fala, todos morrem. Enfim, é isso, dragão de escamas verdes e olhos amarelados. Apesar da nossa vida ter sido imensamente cruel,  sempre fomos nocauteados  a vida toda por agentes com pele de carneio marrom, minha mãe me ensinou os cantos dos pássaros, me pai me ensinou a andar de cabeça erguida, e minha irmã é uma das minhas melhores amigas. Sabe, dragão verde, faça seu xamanismo nas neves, na praia, numa ilha do Triângulo das Bermudas. É assim mesmo, enquanto a guerra não acaba, nós vivemos cotidianamente em estado depressivo e de alerta. Mas se deve ter coragem, pessoas que aceitam uma guerra não pensam em sua prole ou em como defende-la do frio, da falta de aquecimento, da falta de mantimentos. Quando algo desse tipo acontece, se balança a cabeça e se planejam viagens para daqui a dez anos. A aceitação muitas vezes nos faz bem melhor do que o perdão. Ninguém é obrigado a perdoar, mas agradecer pelo sol que nasce e dormir num travesseiro sem culpas de quem matou mulheres e crianças, de quem torturou crianças e jovens, só de sermos vítimas no mundo, já é um bom motivo para ser feliz. Sei que é difícil ser a vítima, isso dói, mas ser o agressor, deixa o coração cheirando a podridão negra e embaçada que nem mesmo os urubus chegam perto.”

Dragão de escamas verdes abriu os olhinhos como um cachorrinho pede afago. Ele abaixou a cabeça com aqueles dentes grandes e pontudos. Eu num toque suave levantei seu rosto e disse a ele que jamais teríamos culpa de quem passa fome numa guerra.

“Você deve conhecer os tabuleiros do xadrez da vida mais ainda do que o tabuleiro do próprio jogo de xadrez. Eu por exemplo, cabeça de miolo de pão com TDH pisco e levo  um xeque. Mas oras, nesse tal de xadrez da vida, eu agarro meu cajado de aço cromado em platina, quebro todo ele, construo todo ele de novo, para que jamais me tirem o lugar do bispo que eu escolhi nos tabuleiros reais das nossas histórias.

 

Cheiro de tristeza com angústia de algodão PARTE I

 Um cheiro de tristeza com angústia de algodão, as guerras estavam borbulhando, como quando se deixa a chaleira de água do café da manhã, corre lavar o rosto e acaba se distraindo... As borbulhas ficam todas à tona.

Ouvi a voz do terror negro vindo de dentro do planeta Terra, bem lá no fundo, o dragão gritava assustado, e chorava de medo. Passei pela Sibéria para andar com os lobos ferozes, e senti o cheiro de suor do medo que dragão potente sentia naquele momento.

Dragão de grossas escamas verdes e olhos amarelados habitado no fundo das montanhas de neve siberiana exalava um cheiro vermelho com musgo de algas marinhas e cascas de bananas.

Dragão da Sibéria urrava amedrontado, sem fé, sem esperanças para dias melhores. Ligou para a Coreia do Norte e disse, quero morar com vocês, KIM pediu um tempo. No Brasil, as Amazonas de Sérgio Buarque construíram um campo de proteção ao redor de suas pampas e das árvores enlouquecidamente gigantes e sombreadas que ocultava todos os pedaços do sol.

Eu estava próxima ao Rio Pardo, brincava com os lagartos, observava os gaviões, olhava para a correnteza do rio e buscava meus mistérios mais ocultos no vermelho aquífero que deslizava fortemente para o Paranapanema.

Subi os morros de terra roxa acobertados de sombras prontas a nocautear o sol. Voltei-me ao campo e ao rio e comecei a sussurrar vagarasomente na preguiça daquele  encantado bosque. “Começaram com uma mãe que zela o bebê, abraça e dá o leite, terminaram com violência infantil, assassinato e valas cheias de ossos sem identidade...” Eu repetia, “Tenho medo, mas não respeito, tenho medo, mas não respeito...”

Voltando dos pampas e do campo magnético mágico das Amazonas que protegiam a floresta encantada, dragão de escamas verde escuro pousou na ponte mais alta do rio Pardo. Me observava enquanto eu acendia velas brancas, incensos e colocava as mãos na terra pedindo perdão. Nos de repentes das minhas crises de choro, meu anjo da guarda me guardou em suas asas brancas de plumas de seda e algodão puro vindo do mato.

Ele olhava para mim e repetia, “Sofia, você é vítima, Sofia, você é vitima, Sofia, você foi vítima, Sofia, você ainda é a vítima. Tome cuidado, Sofia”. Quando Gabriel cresceu duas vezes sua altura e emanou uma luz forte e dourada, eu o olhei e disse, “ muito obrigada”, e mais uma vez as cintilantes magias do Universo haviam me feito sorrir de novo, como sempre acontecia.



sábado, 7 de janeiro de 2023

O pavão negro e o corvo

Enquanto batia o último sino de bronze da meia noite ao lado da floresta de outono, o corvo irlandês sobrevoava o Pacífico gelado em nome do mago ousado que também era chamado de pavão negro. O oceano acima e o oceano abaixo congelavam em águas cristalinas em meio ao turvo som do vento oculto do outro mundo. Enquanto o corvo vivia na solidão das desavenças da introversão do desprezo, o pavão oculto abria um leque de possibilidades de cores sóbrias de olhos vermelhos e cansados, como se a cegueira em olhares amarelados pudesse enxergar as maldades em verdes e azuis que existiam nos pisos lúcidos de madeira. Uma voz entretida saía de uma bruxaria de uma estação de trem de trilhos velhos de ferro, cortava o espaço pequeno e empinado do Mônaco da limpeza, das riquezas, do luxo e das artes. Enquanto o mago anovelado de malvadezas anunciava o natal da igreja ortodoxa, os veteranos diziam na Rússia, só existirem Sibéria e neve. Além de tuneis de gás, de oleodutos e da Praça Vermelha, na Rússia existia também uma linha a oeste e não tênue para aiatolás polacos de narizes empinados, bochechas rosas, malas, sacolas e tênis de trilhas vias afora. Do alto do espaço, uma voz entre os astronautas dizia que erroneamente havia quem pensasse que na lua havia zircônia. O que existia na verdade eram anéis de saturno feitos de ouro, e rubis no planeta vermelho. Em outras galáxias havia de se terem também outros pavões negros e corvos de profundos olhos que captariam relíquias em oceanos Pacíficos. Ao Extremo Sul do Ocidente, ralhavam marés altas de anarquismo e falta do que não se tinha. A magia dos corpos havia começado, e a magia da física violeta e rosa perpassava asfaltos em corpos estelares, cometas e nuvens celestes, nos quais ainda havia de se encontrar espíritos leves, soltos e quem sabe um dia, enaltecidos da tristeza do que é certo, do que é o óbvio, do que é certeiro, de direito, justo, digno e assertivo. Daquilo tudo que na verdade, não existe nada do raso, mas sim muito do preto, do oculto, do pavão negro e do corvo. 



A ditadura de anticristo se chama Revolução da Luz

Busquei a coragem do lado de fora do quadrado, que era a janela pequena do quarto azul e gelado, algumas mulheres, Escabosa, e uma órfã. A t...