quarta-feira, 18 de maio de 2022
Sanções ::)) Rússia
Companheiros, Nikita, Gorbachev e Pequim
|
quinta-feira, 24 de março de 2022
Aqui cabe um chapéu branco
Era uma vez uma menina que nasceu brilhante, sua vida e
seus pais, tudo brilhava tanto que chamavam a atenção de outros olhares. A
menina criança brincava sozinha na sua pequena casa com jardim de margaridas,
alecrim, hortelã e rosas. Seu umbigo havia sido plantado na roseira para que, se
caso alguém lhe fizesse algum mal, ela renasceria bela como a rosa novamente.
Certa tarde, um senhor vendo a criança brincar tão só, passou a ir conversar
com ela todos dos dias. Para o espanto daquele rico, elegante e sóbrio senhor,
a menina de certa forma controlava para lá para cá seu pequeno trenzinho vermelho
de um dedo e meio enquanto sorria com a mágica. “Deixe-me ver você fazendo isso
de novo, consegue com essa aliança?” A aliança dourada ficava em pé e caía, ficava
em pé e caía. “Nunca vi nada igual, princesa. Vou falar com seus pais.” Dizendo
que eles teriam milhões de dólares em ações da bolsa de valores, em troca,
deixaria que ele educasse e patrocinasse todos os estudos da pequenina. Entre
muitos choros e lástimas dos pais, resolveram que ela teria que se adaptar,
caso contrário, nada feito. Mas a guriazinha sequer saiu de perto do pai,
agarrou a calça jeans do progenitor e foi irremediável com assertivos nãos. “Mas
eu sou muito rico”. Dizia o agora pobre senhor. “Não, não, não, não.” “Aquilo
que você faz com seu trenzinho, você pode fazer muito mais, pode fazer com
muitos mais brinquedos!" “Não me importo. Não, não, não. Você não é minha
família.” Os pais chateados de tanto orgulho e alegria disseram, “é, desse
jeito ela não vai, é melhor o senhor se esquecer desse projeto.” “Então deixa
eu tentar levá-la para conhecer minha família, quem sabe ela gosta.” “Não, de maneira
alguma, nem conhecemos o senhor direito.” E o pobre homem fingia um passeio
quase todos os dias pelos arredores da casa, então, tiveram que se mudar de
cidade, os pais, a menininha e a bebê irmãzinha mais nova. Arrematadores
terríveis da infância que a menininha encontrou nesta pequena cidade no sul, ao
se desenvolver criança mais linda, oradora da turma, ágil em todas as matérias,
vencedora de concursos de redação e de feiras de ciências, apalparam seus peitinhos,
a jogaram no chão cheio de erva daninha e terra arenosa, transformando-a numa
prostituta aos oito anos de idade, sem que ela tivesse a mínima ideia do que
estava ocorrendo ali, só sabia que tudo lhe doía por dentro e por fora, do
coração ao corpo, da vergonha à raiva embutida, por isso fechou os olhos e
desmaiou. Depois daquilo, só conseguiu tirar D em matemática, e começou a ver
que às vezes era melhor agradecer simplesmente por estar viva. Mudou-se de
cidade novamente e aos treze sofreu bullying, aos vinte estava sozinha, abandonada
pelos colegas porque o pai fora à falência, sem namorado, sem a doçura da
juventude ensolarada. Mas ela sabia de uma coisa quando olhava para trás, seu
crescimento não havia parado, e ela não era tal como uma samambaia paralisada
esperando por mais um dia úmido de alimentação. Percebia-se pequena perto do
que o misterioso universo queria lhe fazer crescer. Abriu livros e mais livros,
prestou concursos, fechou um novo círculo de amigos, dessa vez cheios de
ternura e bondade, e abriu uma caixinha no word chamada “doc”. Ela nunca mais
foi a mesma. Desde então, vem sendo homenageada justamente e idoneamente, ora
ganha algum prêmio de destaque, ora um prêmio de honra. Sua sabedoria havia
crescido, conhecera amigos esplêndidos pelos quais fazia uma prece quase todas
as noites. De vez em quando ainda desligava o bluetooth do fone de ouvido sem
querer, quero dizer, com a mágica, ou fechava uma porta de um armário, ou apagava
e ascendia a luz de seu quarto, Mas ela não tinha mais controle, tudo o que ligava ou desligava era através de seu
inconsciente, e quando ficava brava então, dio santo padre! Era um tal de pisca
pisca na luz do seu quarto que até mesmo ficava sem graça se alguém entrasse repentinamente.
Agora essa pequena menininha se tornava uma grande mulher, mas alguns traumas
de seu passado ainda não a permitiram galgar tantos novos degraus assim. Ela estuda todas as noites depois
que chega do trabalho e nos fins de semana todo.
Seria muito bom se alguém pudesse apoiá-la, e em troca, ela
pode até escrever um conto de sua preferência.
Quem puder contribuir, ela se compromete a escrever.
PIX: natholiveiracami@gmail.com
P.S. Ela ama demais todos os leitores e agradece por cada um deles no mapa das estatísticas. Mas do que ela precisaria mesmo era de um bom e belo chapéu branco...Como desses de Carmen San Diego
TE havendo superávit, ela ajudará os Médicos sem Fronteiras e a Cruz Vermelha com doações.
sexta-feira, 11 de março de 2022
O conto do anjo esquálido
Sonhei
que estava num campo desalumiado, um lugar aberto, anuveado por pesadas nuvens
negras e acinzentadas, que delas às vezes caía uma garoa fina e gelada que
fragilizava até a erva daninha do mato. No vale afora não se via nada, apenas
se sentía o vento frio e a dor das almas perdidas e retraídas e suas maldades,
que eram atormentadas pelo anjo esquálido. Corri para ele e perguntei, por que
nem todos possuem o mesmo valor? Por que uns são bons e outros são maus? Então
quem me contou foi o anjo, o anjo negro, magro, ossudo, cheio de maldades, o
anjo esquálido. Disse-me que existem pessoas nesse mundo que estão cheias de
vitalidade, mas que na verdade não têm alma. Como se elas fossem uma cabeça de
fósforo já riscada, dela não pode mais sair o fogo. Como se elas fossem milhares
de cabeças de fósforos que já riscadas andassem por uma mata que estivesse sido
queimada, as cabeças cinzas na mata cinza, tanta cor que não tem que o choro é até espinhoso,
quando se chora, dos olhos saem espinhos. Quando se ama, da boca sai o vômito.
Quando se pede perdão com uma mão, com a outra lhe arranca um punhal. Quando se
dorme, a navalha rasga a carne. Quando chove, inves de adubá-los, eles morrem.
É assim que acontece com as cabeças de fósforo já riscadas. Eles são seres
humanos, mas sem alma, quem deu vida a eles foi apenas o relógio bestial do
funcionamento dos rins e do batimento cardíaco, fora isso, são como um copo de
plástico. As pessoas boas e honestas são como cabeças de fósforo não riscadas,
para elas, cada acontecimento da vida há uma chama para brilhar, uma nova surpresa,
como um rajar de felicidade. Elas não se cansam em felicitar, em elogiar, em
enebriar-se de prazeres lúdicos, de sonhos bons, de respirar novos ares. Para
elas uma estrela no céu que brilha é um motivo para seu sorriso também tenha
brilho aquí na terra. São purezas como anjos fofos de cabelos brancos, sabem
que jamais serão bons o suficiente, e por isso tentam ser cada vez melhores.
Não importa se são ricos ou pobres, pessoas de cabeças de fósforo não riscadas
podem ter pasado fome um dia, mas quando forem cuidar das moedas da igreja, não
levarão um centavo para a casa. Já as pessoas de cabeça de fósforo riscada
podem ter tido casa no lago, terraço europeu, e quando houver oportunidade,
destruirão em pó a igreja do anjo fofo. Tome cuidado, disse então o anjo
esquálido para mim, existem mais anjos esquálidos como eu, e eles dissseram
estar sedentos por mais poeira, mais sangue e menos fofura. Fique bem atenta,
se não houver mais guerra, daí não haverá. Mas se houver a terceira, daí haverá
a quarta e assim elas persistirão. Então olhei para o anjo esquálido e disse, não
é assim, os anjos fofos vencerão quantas vezes forem preciso, suas cabeças de
fósforo hão de se acenderem em incontáveis ocasiões, não somente pela moral de
que o bem sempre vence, mas porque não tem coisa melhor do que rir de
felicidade, jorrar vitalidade, sentir o brio, respirar o vento fresco e desejar
o amor ao próximo. Inegável, disse o anjo esquálido sorrindo um sorriso analítico
e me abraçou. Quando saiu de mim, observei o tempo e tudo estava mais claro, as
almas perdidas haviam se tornado arrebentos de diversos verdes, de diversos
tons. Então pensei que coisa boa que era dar cor ao cinza, dar fofura aos
espinhos inescrutáveis dos desprazeres dos açoitos dos desamores e dos infortunios
desta vida.
Account me 🥹😄☺️😌😉
AG. 0343
ACCOUNT. 000596150444-8
BANK CEF. 104
💰💲
quinta-feira, 3 de março de 2022
Café infinito sem inverno tímido
Dizendo oi ao outono...
O |
outono estava chegando, já podia se sentir o
vento fresco arrefecer a sua face. O dia começa a ser mais curto, às cinco da
tarde o sol caminhava misteriosamente para seu horizonte a se esconder. Suas
primeiras blusas de linho eram pouco a pouco retiradas do fundo do guarda-roupas.
A janela do quarto permanecia aberta ao dormir, mas agora se encolhia numa
manta sedutora e gentil que amaciava inclusive suas piores noites. Na volta
para casa, pegou um café expresso na padaria e aproveitou o ar arejado do
outono póstero para saborear a bebida quente e interromper as acrimônias da
vida por certo instante.
Mas a rispidez voltara logo, com o primeiro sinal
de arrogância de sujeitos ao desenrolar de seus passos pelo calçadão do pequeno
vilarejo. Nem era tão pequeno assim. Ela inclusive pensava que havia gentes
demais. E se lembrava da parcimônia generalizada de quando era criança e corria
de braços em braços dos adultos que se encantavam com sua tagarelice ao redor
de suas gordas bochechas, de suas perninhas rechonchudas e pezinhos tortos.
Por vezes, até mesmo pessoas indesejáveis a tomaram
pelos braços e rodopiaram com ela pelas ruas da velha cidade cafeeira. Mas o
que importava era que no final do dia estava lá, com seus pais, admirando os
primeiros deuses que conhecera em vida.
Seu pai ensinou a ela como jogar dama, xadrez e
gamão. Também a convenceu a ficar longe de jogatinas, e passar a quilômetros de
distância de qualquer cassino em Las Vegas, mesmo que tivesse a maior quantia
em dinheiro do mundo. Ela até que se fazia boa jogadora, sabia perder. Ou como
dizia o pai, “és uma boa perdedora!”. Mas das poucas vezes que ganhava,
surpreendia-se com os golpes que dava no adversário: rastelava as peças de modo
a não ter reparo.
Mas ela não conseguiu mais ter sonhos, tampouco
conseguia se distrair ao caminhar pelas ruas. Em meio à intolerância civil, à
guerra cibernética, à guerra da Crimeia e de Kiev, à pandemia do Covid, aos
olhos vedados do mundo angustiado, seus pesadelos se tratavam da rispidez
excepcional do ser humano. Nada na história era tão assustador quanto a
incomplacência demasiadamente inflexível do momento. Como se os espíritos do
homem cuspissem o fogo diabólico do ódio.
Dessa forma, não havia nela um passado bom, por
mais que fosse bom. Pois havia de se beber tanto café para as acrimônias, e
havia de se proteger tão fortemente contra as mentes de juízo satanista, que
pensar num mundo bom para ela, dava-lhe a sensação de ser roubada por morcegos
sugadores de sonhos, aqueles enlaçados sob fantasias intrincadas na forma de
pessoas empipocadas no mundo.
Mas o outono era uma nova esperança. Mesmo que não
tivesse sonhos, mesmo que fechasse os olhos e ouvisse apenas barulhos do
inconsciente humano revolto e tempestuoso, a própria presença do outono era um
grande presente. No tempo de sopro frescor na face fatigada, o momento de estar
já era um sonho muito bom. Era assim que ela vivia o pesadelo da era
contemporânea, sempre em busca da vivacidade da aura fresca do outono, ou de
uma manhã gelada cheia de gelo no inverno. Naquele sol abaixo do Equador, ela
sobrevivia na maior parte do tempo para dar verdadeira sobrevida à vida por um
curto período do ano. A única coisa com o que podia sonhar sem ser acordada
pelo marasmo apocalíptico do novo tempo era com um campo gelado, um pesado
casaco de frio e uma toca de lã grossa protegendo sua cabeça do vento gélido.
Ela no íntimo aguentara até ali porque sabia que este lugar existia em vida.
Ela sabia que o chão que havia em sua terra havia nos gelos também, e que por
isso poderia chegar lá. Enquanto isso, fechava os olhos nos dias bem frescos da
sua velha cidade e desejava que o café do copo fosse infinito, que o anoitecer
não acabasse e que nem o outono e o inverno chegassem tímidos naquele
ano.
sábado, 12 de fevereiro de 2022
E a segurança de energia da China anda como?
Em questão da segurança da energia da China, sua economia cresce ao mesmo tempo em que tem avaliado quão longe vai sua energia e como o fornecimento dela está e ficará disponível, tanto no sentido doméstico quanto no campo industrial, e até agora, nos dois setores ela tem decaído.
A China é dependente de suprimento de energia elétrica por volta de 60%, da qual metade vem do Oriente Médio e um quarto da África, enquanto depende de gás natural em volta de 30 por cento, dos quais 50% provem do Turcomenistão. 80% do suprimento de energia da China vem direito do Estreito de Malaca, que é a principal passagem marítima entre os oceanos Índicos e Pacíficos.
Em eventuais conflitos com os EUA, China acaba correndo o risco de ser interditada em relação aos seus acessos aos recursos energéticos. Portanto, um dos objetivos da China é criar energia alternativa e canais para ligarem matéria bruta da Ásia Central, Leste Asiático e Paquistão, e dessa forma facilitar o Cinturão de Seda em seu empreendimento. Esses canais, a maioria ligados por ilhas, correm diretamente pela sobrevivência dos estados e por menos vulnerabilidade frente aos EUA. Em particular, o porto de Gwadar, no Paquistão, que é cedido para a China e serve como parte sul do corredor do Cinturão, pode dar suporte e manter o acesso aos recursos de energia.
De qualquer forma, deve ser notado que a rota topográfica é um desafio assim como a segurança, já que se trata do território do Paquistão. Além do mais, a construção de oleodutos entre China e Ásia Central estende tempo, mas carregando óleo do Cazaquistão e gás natural do Turcomenistão e Uzbequistão, isso, em termos relativos, tem reduzido sua dependência marítima com a Rússia.
sábado, 5 de fevereiro de 2022
Números indianos
Contou as
horas para vê-lo. Na cama, abraçou-se a si mesma e se enrolou na coberta
sentindo o cheiro de alfazema no travesseiro, acabou sonhando que ele a
acordava com um beijo no rosto. No café da manhã comeu ovos com queijo e suco
verde, ouviu Beatles e a música, Hey Jude, escutou-a umas cinco vezes seguidas
ao mesmo tempo em que se lembrava da noite em que estavam jantando à Beira Mar
e ele disse que era muito importante que tivessem uma música e que já havia
decidido qual seria. Ela disse que não gostava de Beatles, que Hey Jude era na
verdade uma alusão à heroína, que era só notar quando na letra se dizia “the
minute you let her under your skin, then you
begin to make it better”… E não o convenceu de que Beatles usava quase
sempre em suas músicas, algum tipo de metáfora para fazer apologia às drogas, e
então acabou sendo essa a música deles mesmo, pois afinal de contas, Hey Jude
era uma música bonita se ela fosse levada em consideração justamente por esse
sentido. Colocou um vestido preto e calçou tênis plataforma. Com protetor solar
no rosto sardento, passou a encarar o sol de outono nas ruas apavoradas da
metrópole. Com o pouco dinheiro que lhe sobrava do mês, pagou o Uber e desceu a
serra do mar em direção à casa de veraneio que ficariam no final de semana. O
cheiro da mata úmida e verde do morro lhe dava um gosto inédito a cada vez que
descia a serra, dava vontade de adentrar a mata e comer a relva até se tornar
aquele cheiro forte e enebriante. Novamente pensava nele e sorria gostoso um sorriso
doce e aberto, da largura do amor que suspira no ar. Ele abriu a porta e a
tomou pelos braços. Não havia cobranças, só confiança, ternura e paixão a dois.
“O que você vai querer hoje?” Ele perguntou. “11, e você?””14”. “Ainda faltam
423 que não testamos”. Disse ela mordendo seu pesoço. “Teremos a vida toda para
isso”. “A vida toda? Isso não é muita coisa?” Perguntou. “Não é muita coisa
para quem vai passar a vida toda juntos. Queria te perguntar. Você aceita se
casar comigo?” 423 era o número de posições do Kama Sutra que ainda não haviam
provado. Eles eram um casal tedioso, como qualquer outro, entre idas e vindas,
desapegos, dissabores, descompromissos, desimportâncias. Nunca haviam se levado
a sério, diziam um a outro que namoro ou casamento estragaria qualquer tipo de
relacionamento, que encontros casuais era o que bastava. Até que ela propôs o
Kama Sutra, ele ficou apavorado, nunca alguém tinha feito proposta assim tão
competente, será que ela estava falando a verdade mesmo? Teria que saber. Marcou
tão rápido um encontro, e depois outro, e mais outro, e não parou mais. Até que
ficou enlouquecido, e um mais apaixonado que o outro, os encontros não paravam
de acontecer, e na paixão fervorosa, quente e imaculada das posições dos nobres
indianos inventadas por Mallanaga Vatsyayana, acabaram sendo pegos pelos laços
do envolvimento verdadeiro. Ele a tomou nos braços e perguntou, “Aceita?”.
“Sim, eu aceito”. “Então vamos escolher juntos um número novo para amanhã”.
“Melhor ainda.” Ela diz, e continua: “Vamos escolher dois, um para cada, como
sempre fazemos”.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2022
Epona e a Amazônia
M |
erlinda passava as mãos sobre os
cabelos ruivos e bagunçados de Epona, às vezes lhe dava um beijo no topo da
cabeça. Enquanto Aron permanecia calado, ao mesmo tempo, acolhedor. Vamos todos
superar isso. Pensou Merlinda em dizer, mas se calou. Sentou-se ao lado de
Epona e pegou sua mão carinhosamente. Era melhor o silêncio.
O
celular de Aron estava na sua bolsinha que carregava na cintura, pregada ao
cordão, vibrava a toda hora com mensagens vindas ao redor do mundo. Ele estava
cansado daquilo e desligou o aparelho. Epona merecia mais sua atenção do que
qualquer outro. Eles viviam felizes e protegidos na selva da Amazônia, entre
cabanas, escondidas no meio das árvores gigantes da floresta. Eram três vilas
distribuídas no sul da Amazônia, entre as cidades perdidas. As casas eram
feitas de madeira, com telhados de palha amarrados fortemente em cipós, para
suportar as tempestades. E em cada uma delas havia um quarto subterrâneo
revestido de pedras, era o lugar que faziam alquimia e feitiços. Onde havia
caldeirões de estanho, poções, mágicas, ervas secretas e livros sagrados.
O
livro sagrado do tempo ficava na casa de Epona, num cofre, numa passagem
secreta entre a prateleira de livros e a sala ao outro lado, onde somente
Ariosto tinha acesso. Havia muitos livros sagrados que revelavam mágicas
extremamente poderosas. Elas estavam espalhadas ao redor do mundo, sob cuidados
de sacerdotes confiáveis. Porque uma mágica utilizada de modo errado ou
egoísta, poderia causar o desaparecimento de muitas fadas. Como já houvera no
passado, famílias inteiras de fadas foram transformadas em poeiras no espaço, por
causa do mau uso da mágica altamente poderosa.
Na
casa de Ariosto Medinis, tudo estava estático no tempo. De onde ele estava
sentado, na sala obscurecida pelo crepúsculo, observava uma fotografia de
Epona, quando fora para as praias desertas francesas pela primeira vez. Olhar
sereno, em busca de uma grande sabedoria que estava por vir.
O
vento entrava pela porta dos fundos da sala, que dava para um jardim cheio de
violetas, hortênsias, rosas e outras flores. Junto com uma cerca verde de
hibisco, que separava a floresta da casa.
Apesar
do jantar ter ficado muito agradável, com cheiro de perfume das ervas do mato,
nenhum dos dois comeu muito. Ariosto tentava manter todas as suas forças de
muralha edificada de mil metros de altura. Mas sabia que Epona estava pouco ou
quase nada convencida de sua calmaria. E ela também sabia que poderia não
sobreviver à guerra.
https://pin.it/5CV9v9i
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Os refugiados de tantos tempos
Como tratar a guerra, a violência e a perseguição que já forçou 65 milhões de pessoas a fugir de suas casas ao redor do mundo? O termo refugiado é milenar, mas foi estruturalmente organizado na Convenção dos Refugiados, em 1951, em resposta ao fluxo massivo de migrações de judeus na Segunda Guerra Mundial. Indivíduos são forçados a fugir de seu país de origem, estando incapacitados de retornar em razão do receio de serem perseguidos. A perseguição pode ser em virtude de sua raça, religião, nacionalidade, classe social ou opinião política. Na atualidade, metade dos refugiados do mundo são crianças, e milhares delas estão desacompanhadas de adultos ou responsável, evidenciando uma situação que as tornam extremamente vulneráveis às violações como o trabalho infantil, o casamento forçado ou a exploração sexual. A assistência humanitária é um mecanismo de resposta para com as necessidades das populações afetadas aos conflitos em seus países que as levam a fugir desesperadas, em busca de um novo começo diante da vida abalada por guerra, bombas, perseguições e mortes. As potências mundiais são as principais financiadoras humanitárias. E esses atores assumem uma função decisiva no progresso da ordem humanitária que pode dar suporte a essas milhares de pessoas, ou podem ter o poder decisivo de estagnarem esse progresso. Pela sua potência, o poder hegemônico dos Estados Unidos está sempre à frente dos holofotes na tentativa de dar prosseguimento na luta contra o terror no mundo árabe, tendo em vista que a Jihad e o Estado Islâmico, além das oposições entre xiitas, sunitas e curdos, são alguns dos principais terrenos motivadores de perseguições, entre outros. Mas se sabe que os EUA provocou o agravamento dos problemas, incluindo o apaixonado radicalismo islâmico. No âmbito da diplomacia internacional, a Rússia, a Alemanha e a França são vistos pelos países extremistas como principais pontos de apoio e confiança para se tornarem aliados. A capacidade de respostas de equilíbrio contra a crise é ouvida e contrabalanceada pelos governos radicais, eles ao menos refletem sobre o consenso de um compromisso global. No entanto, as estatísticas até agora não animam para os próximos dez anos: em 2015, verificou-se que somente os EUA ultrapassam 596 bilhões de dólares em gastos com os países em crise, em relação ao total de gastos somados dos governos da Rússia, China, Japão, Arábia Saudita, Alemanha, Israel, França e Reino Unido. As expectativas de justiça e paz social nos Estados islâmicos possuem um emaranhado de desordem, em que não se encontram respostas. Mas deve haver esperança e reflexão sobre a história sofrida que se repete a cada dia. Primeiramente, agir com compaixão. Enxergar-se no lugar do outro. Para quem já leu Hanna Arendt, conhece e se comove também com sua história e condição de refugiada. Ela foi uma cientista política alemã, de origem judaica, nascida em 1906, uma das teóricas políticas mais influentes do século XX. Ela conseguiu emigrar da Alemanha depois de ter sido perseguida e presa em 1933. Tornou-se apátrida até 1951, quando conseguiu finalmente uma nacionalidade. Ela escreveu uma carta jornalística, chamada “Nós, os refugiados”, e nos força a pensar com a devida sensibilidade para as questões verdadeiramente humanitárias: “Perdemos a nossa casa o que significa a familiaridade da vida cotidiana. Perdemos o nosso trabalho, o que significa a confiança de que tínhamos algum uso neste mundo. Perdemos a nossa língua o que significa a naturalidade das reações, a simplicidade dos gestos, a expressão impassível dos sentimentos. Deixamos os nossos familiares. […] Não sei que memórias e que pensamentos habitam toda a noite nos nossos sonhos. Não me atrevo a perguntar por essa informação, uma vez que, também eu, preferia ser uma otimista. […] Não. Há algo de errado com o otimismo. Há aqueles estranhos otimistas entre nós que, tendo feito vários discursos otimistas, vão para casa e ligam o gás ou dão uso a um arranha-céu de modo inesperado […] Ao mencionar a convicção de que a vida é o bem maior e a morte a maior consternação, tornamo-nos testemunhas e vítimas de terrores piores que a morte – sem termos sido capazes de descobrir um ideal maior que a vida. Assim, embora a morte perca o seu horror para nós, não nos tornamos nem dispostos nem capazes de arriscar a nossa vida por uma causa.”
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
O que ver em série
Quem ainda nao sonhou com E.T.s, ou que estava rodeado de zumbis, não sabe o que é finalmente chegar no século XXI. A nova era que tanto almejávamos na década de 90 está sob os nossos pés exageradamente cheia de novidades. A digitalização global é uma realidade fixada, chegou para ficar, assim como a eletricidade e a água encanada. Nessa semana que se passou, veio a óbito o padre Quevedo, parapsicólogo e ajudante de limpeza da ignorância de todos nós, humanos, que acreditamos em qualquer bobagem que julgamos ser conveniente acreditar. Talvez por estar muito velhinho ele havia se desvinculado das aparições televisivas, jornalísticas, fantásticas. E fez falta na última década. Também pode ter se desvinculado por perceber que o ser humano está muito mais preso e agarrado a ondas de acontecimentos que deposite nele uma perturbação de desentendimento primitivo. É isso está sendo permitido acontecer com uma sucessão produtiva de séries cada vez mais impressionantes sobre o Apocalipse, o último livro do novo testamento das Escrituras Sagradas. Cada série com o devido teor de fantasias e medos, cada vez mais obscuras, fantásticas, diabólicas e assustadoras. Somente produziram e continuam porque há quem nota que é o que importa no momento para o homem. Indivíduos perceptíveis inseridos globalmente em massa que pensam demasiadamente em vingança e em si próprio egoisticamente. Netflix e recentemente Amazon Prime vídeo desbancam novas séries sobre diversas teorias do fim do mundo, de guerras de todos contra todos, de zumbis, de alienados. O telespectador está embebedando dia após dia de fantasmagóricas hipóteses sobre um futuro próximo. Recentemente foi confirmada a terceira temporada da série “Anne with an E”, que possui o Best-seller “Anne of Green Gables”, da canadense Lucy Montgomery, escrito em 1908. Lucy contou muito de sua própria história no livro, aos 21 meses sua mãe morre e é rejeitada pelo pai. Na infância sofria de muita solidão, foi criada pelos avós com uma educação rígida e austera. Depois de adulta se forma em literatura e mais tarde publica o livro de repercussão internacional. Anne se tornou símbolo da cultura canadense, trata de temas com os quais lidamos ainda hoje, feminismo, bullying e preconceito. Na série, Anne não perde suas características principais, romântica e inteligente, apaixonada por todos os tipos de conhecimento, extremamente questionadora, uma jovem de treze anos que enfrenta a sociedade patriarcal e duramente ofensiva do vilarejo no qual foi inserida. É uma série encantadora, cheia de pureza humana, de charme e também de muitas críticas aguçadas sobre o nosso comportamento em sociedade. Mas é uma série sem nenhuma presunção, sem quantias enormes gastas em dinheiro. E fala sobre o que precisamos ouvir, põe o dedo no ego da ferida humana, e não fica fantasiando os nossos olhos exorbitantemente com dragões, bruxos, zumbis, vampiros e mágicas. O livro é de arrancar lágrimas de muitos durões, e a série é de deixar a alma leve depois de um dia cheio de atribulações e trabalho. Ao mesmo tempo ela nos dá boas lições sobre as nossas próprias atitudes e reações que às vezes é tão ofensiva e não percebemos. A vida de Anne já teve acontecimentos inconcebíveis do ponto de vista de muito sofrimento para uma garota, mesmo assim, ela possui um desejo inexorável de que tudo dê certo. Apesar de muitas dores, ela é enérgica, perspicaz, transbordante de ideias e expectativas. Com paisagens campestres e frio canadense, as cenas encantam a todo momento. De tranças vermelhas e expressivos olhos azuis, a desajustada e imaginativa Anne nos envolve no século XIX através de uma fotografia de filmagem incrível. Mas voltando ao nosso cotidiano, a série quase ficou na segunda temporada por falta de audiência. Os fãs de Anne do mundo todo se mobilizaram e fizeram um abaixo-assinado para a produtora, e daqui a pouco eles serão surpreendidos mais uma vez pela linda Anne. Enquanto isso, o mundo fica com mais do homem primitivo, que é o que tem pra hoje, como se costuma ouvir. Já que o homem é tão sábio de si a ponto de querer saber o que acontece depois do fim, e não quer saber o por quê acontece o fim, é com seriados de fim do mundo mesmo que se permanece. O indivíduo não tem acordado agradecendo por poder acordar, mas ansioso para dizer ao vizinho: “eu avisei!”. E dessa maneira avistar seus inimigos sendo devorado por um amontoado de zumbis.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
Um Leviatã meio torto
A discussão sobre
a redução da maioridade penal. O argumento pretende reduzir a
maioridade penal para certos casos. Em muitas opiniões de especialistas do
direito penal, a proposta é inconstitucional, pois se vale da tentativa de
modificar cláusula pétrea da Constituição de 1988, que trata dos direitos e das
garantias fundamentais, e ofende juridicamente os tratados internacionais sobre
os Direitos Humanos das Crianças e Adolescentes. Também entra em discordância
do Pacto de San José da Costa Rica, o pilar dos Direitos Humanos nas Américas,
que também é chamado de Convenção Americana dos Direitos Humanos (CADH). É um
tratado da OEA (Organização dos Estados Americanos), que entrou em vigor em
1978, atualmente é uma das bases dos sistemas interamericanos de proteção dos direitos.
Os países que assinam os tratados tornam-se signatários e não lhes é permitido
fazer uma legislação em sentido oposto, por isso alega-se que ela retroage
dessa forma. De nada adianta dar direitos humanos àqueles que agem com terror,
punindo a sociedade toda por carências que ele adquiriu, sim são inúmeras, mas
não foi o motorista do ônibus metropolitano que cruza a Linha Vermelha no Rio
de Janeiro que fomentou sua fome e sua miséria humana, não foi também o senhor
aposentado que passeia em Copacabana, depois de uma vida toda fechado numa
repartição pública, pagando todos seus impostos para que houvesse
segurança. Mas sim, uma abordagem desumana e cruel somente vai
agregar vingança e segregação a eles. Não possuem estudo, não possuem preparação
para o trabalho e seus laços afetivos são vulneráveis, ou seja, não há
esperança em uma vida digna e tampouco o sentimento de que pertencem a uma
comunidade, o que lhes dá cada vez mais a chance de retornar às práticas de
delito, cometendo atos de violência contra tudo e todos e se agregando a
facções criminosas, pois à primeira vista, são elas que os fazem ter a sensação
de pertencimento a algum grupo ou corpo social. Esses adolescentes “prediletos”
da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente),
anteriormente chamada Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM),
possuem cor, classe social e endereço certos: pobres, black people e habitantes
das periferias. Reduzir a maioridade penal é responder uma questão complexa.
Além de reduzir a maioridade penal se deve reduzir a violência cotidiana na
sociedade. O que reduz a violência em um país é investimento em educação,
moradias saudáveis, oportunidades iguais de trabalho e muito poder aquisitivo.
Eles precisam saber sim o que é certo e o que é errado. Essa parcela da
população, claro, deve ser responsabilizada pelos seus atos, mas deve ser
incluída no Estado, no âmbito da segurança pública. Os adolescentes devem ser
protagonistas dos seus atos, mas antes disso, mostrem-lhes educação de
qualidade desde a infância, uma comunidade longe do crime, do tráfico de
drogas, da violência e do preconceito. Antes disso, mostrem-lhes oportunidades
de trabalho, condições de vida salubre e a cor do dinheiro limpo. Não se pode
fazer justiça a quem tem enfrentado a injustiça somente. Ou se acostuma por
mais quarenta anos a cantar com naturalidade a música “O meu guri” (1981), na
qual diz: ´Chega estampado, manchete, retrato, com venda nos olhos,
legenda e as inicias. Eu não entendo essa gente, seu moço, fazendo alvoroço
demais´. E se acostuma a imaginar ser fato inalterado e biológico essa condição
do menino vadio e do seu Leviatã meio torto, meio sinuoso, meio Macunaíma.
PS: Leviatã é o Estado como soberano,
autorizado através do pacto social dos homens. Leviatã - Thomas Hobbes.
A ditadura de anticristo se chama Revolução da Luz
Busquei a coragem do lado de fora do quadrado, que era a janela pequena do quarto azul e gelado, algumas mulheres, Escabosa, e uma órfã. A t...
-
Não ... o ocidente não ameaça a Europa toda, imagina.... foi só o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky fazer sua marca que, é o que eu...
-
O Estado democrático não está à disposição de cada cidadão, atendendo de um em um, as respostas sobre suas reações afirmadas e reafirmadas. ...