Gente humilde
São aqueles que param para
descansar nos bancos das praças antes de caminhar morro acima. Os homens tiram
a camiseta no calor. Não têm água. Água é cara no mercado e na rua não tem de
graça.
À sombra das árvores frondosas e
suculentas de frescor, sentam. Batem um papo. Observam. Naquela simplicidade em
meio À tristeza de nunca serem notados. Abandonados pela tristeza dos lupem,
abaixo da classe média, do baixo e do proletário.
Contaram e somaram moedas, discutindo
pegar um ônibus, mesmo com os miúdos curtos.
Atravessaram a rua aos corres e passos
largos, juntando-se ao grupo cheio de calor do mau humor causado pelo sol e
pela espera da condução.
Feliz aquela família parecia, como
se contar moedas e tomar um ônibus para chegar tão longínquo à casa, fosse um
pote de ouro no fim do arco-íris. Testas suando, camisetas molhadas, sol
estalado.
O ônibus se inchou mais um pouco, e
num piscar de olhos, aqueles não estavam mais ali. Realizados, abriram os olhos
num sinal de cansaço e secura do vento quente da estiagem. Soltaram um suspiro
bem baixinho e demorado, e se foram.
Na verdade, ninguém percebeu que
eles se haviam ido. Nem que se foram, nem quando chegaram.
Continuariam na simplicidade oculta
do que é mais complexo no comum, a incerteza de quem são, por que chegam e como
se vão. No imaginário da existência, na invisibilidade na praça e na certeza da
transparência social, daquela que se atropela, mata e não apresenta quase
nenhuma falta.
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