terça-feira, 16 de janeiro de 2024

No imaginário da existência



Gente humilde

São aqueles que param para descansar nos bancos das praças antes de caminhar morro acima. Os homens tiram a camiseta no calor. Não têm água. Água é cara no mercado e na rua não tem de graça.

À sombra das árvores frondosas e suculentas de frescor, sentam. Batem um papo. Observam. Naquela simplicidade em meio À tristeza de nunca serem notados. Abandonados pela tristeza dos lupem, abaixo da classe média, do baixo e do proletário.

Contaram e somaram moedas, discutindo pegar um ônibus, mesmo com os miúdos curtos.

Atravessaram a rua aos corres e passos largos, juntando-se ao grupo cheio de calor do mau humor causado pelo sol e pela espera da condução.

Feliz aquela família parecia, como se contar moedas e tomar um ônibus para chegar tão longínquo à casa, fosse um pote de ouro no fim do arco-íris. Testas suando, camisetas molhadas, sol estalado.

O ônibus se inchou mais um pouco, e num piscar de olhos, aqueles não estavam mais ali. Realizados, abriram os olhos num sinal de cansaço e secura do vento quente da estiagem. Soltaram um suspiro bem baixinho e demorado, e se foram.

Na verdade, ninguém percebeu que eles se haviam ido. Nem que se foram, nem quando chegaram.

Continuariam na simplicidade oculta do que é mais complexo no comum, a incerteza de quem são, por que chegam e como se vão. No imaginário da existência, na invisibilidade na praça e na certeza da transparência social, daquela que se atropela, mata e não apresenta quase nenhuma falta.

 


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