terça-feira, 21 de novembro de 2023

Batom vermelho e chinelos de palha

Uma vez, sai com umas garotas que eu mal conhecia. Eu havia acabado de me mudar de cidade, era bem novinha, 13 anos. Elas me chamaram para dormir na casa de uma delas, e de lá, fomos para uma baladinha de adolescentes. Uma das garotas havia me emprestado botas e jaqueta. Eu estava tão gracinha e tão contente, era um mundo totalmente diferente para mim que até a pouco tempo, só convivia em festas do centro de tradições gaúchas (o CTG). Eu desconhecia literalmente a maldade humana, pois meus dias eram contados na fazenda, cavalgando numa égua manga larga para o sul e para o norte. Admirando as redondas montanhas do sul paranaense, enfiando o pé nas pedras lisas de lodo do rio gelado chamado Lageado. Um rio rasinho, com pedras escorregadias, algumas mini cachoeiras à sua extensão e pequenos redemoinhos aureolados sobre as aguas.

A nossa simplicidade era tanta que minha irmã e eu só vestíamos roupas de panos e de retalhos feitas por minha avó sefaradim. E tínhamos uma caixinha de papelão dentro de uma caixa da máquina de costuras da qual pegávamos tiras de pano para prender os cabelos.

Voltando à baladinha dos adolescentes, o hell´s brain, algumas daquelas garotas me chamaram para dar uma volta do lado de fora. Eu, sempre sorrindo com aquela novidade de pessoas descoladas com um copo de caipirinha na mão, ficava pensando se aquilo era parte tradicional da cidade nova em que eu estava morando.

Era inverno, estávamos morrendo de frio, e meus cabelos lisos esvoaçavam frente ao meu rosto. Mas o maior problema não foi o frio, e sim a violência com que fui tratada. Algumas garotas que estavam passando começaram a brigar comigo porque achavam que eu ia dar em cima do namorado de uma delas, então, se ela achava que eu ia dar em cima do namorado dela, era melhor advertir isso antes.

Eu, com meus olhinhos pretos arregalados, perplexos como duas jabuticabas que acabam de cair no chão de surpresa. Enquanto elas gritavam comigo, as outras garotas já haviam saído de perto. Então a garota que me havia emprestado roupas para sair, abriu a roda, apontou para mim e disse, se forem bater nela, tirem a jaqueta e as botas, porque são minhas e foi caro.

Depois de um tempo, vieram garotas na minha casa com uma lista dos garotos com quem eu não podia me envolver e nem cumprimentar.

Depois, um dos garotos que era afim de mim me trancou no banheiro numa festa da família e quis ME ATACAR. Estávamos ficando HÁ UM TEMPO, eu disse para ele não. E ele nunca mais olhou na minha cara. Claro.

Depois, passei um dia no sítio do meu amigo. Meninas e meninos bebendo cerveja e tequila numa festa de fim de semana. Um ex colega de sala me chamou par conversar. Começou a dizer que era apaixonado por mim, que queria terminar com A NAMORADA, quando eu disse, não faz isso, ela é muito boazinha. Ele me deu um beijo. Eu sai de perto. Então, ele contou para ela, claro. E ela veio brigar comigo. Claro. Disse que eu era uma biscate, uma vagabunda e que ela só não ia me dar um tapa na cara porque não ia se rebaixar a isso. Claro.

Sempre fui uma pessoa convencional que não convence ninguém. Não convenço ninguém por ser convencional, porque eu visto roupas diferentes, sigo modas aleatórias, já se foi pra mim, ficar restrita a uma moda Milão, moda de Paris. Sou um estilo boho chic, acho que mais para uma californiana hippie chic. Mas isso não significa que eu não saiba ser uma trader na NASDAQ se eu quiser, sim, porque inteligência, boas maneiras, educação, conhecimento, sabedoria, beleza, idoneidade e gosto por dinheiro não é relativo à roupa, meu amor.

independente do seu estilo, todo mundo quer dinheiro, desde a mulher barbada do circo, ao mendigo que passou por você agora (dá um lanche pra ele, ok!), ao engraxate que fica na São Bento, São Paulo old centre, ao porteiro das catracas do seu prédio comercial, o uber, o taxista, o corretor, o policial, a atendente, O CARTEIRO, etc.

Mas fazer ciências sociais e se tornar antropóloga, pega mal para garotas do interior que se formam em qualquer universidade apenas para casar com alguém melhor do que a família dela.  EU PREFIRO SEGUIR UMA TRADIÇÃO PROFISSIONAL, UMA LINHA DE PENSAMENTO COMO MESTRES E APRENDIZES COM MEUS FILHOS (FUTUROS).

Qualquer faculdade é boa, depende de quem está nela E DE QUEM TE CONTRATA DEPOIS. Conheço ex universitários da Anhanguera que estão bem de remuneração e financeiramente estável. Mas, conheço alunas da USP, com doutorado, que estão passando perrengues DANDO AULAS em universidades como a Anhanguera.

Depois, perdi o contato com o lado trash and gross da cidade. Ora pois, aquelas garotas disseram que eu era muito humanista, muito feminista, muito pra frente da sociedade, CHEGARAM A DIZER QUE EU DAVA VERGONHA e que eu não era bem vinda.

Depois disso, eu encarei novas turmas, fiz e desfiz amigos, selecionei, picotei alguns, rabisquei uma ou outra foto.

Depois trabalhei numa loja de produtos importados num shopping, fiz estágio no programa bolsa família, trabalhei no banco do Brasil por quatro anos, passei umA tempoRADA na Europa. VolteI, encontrei a Galeria de Antiguidades da Bela Vista DO finado dr Shlomon. Trabalhei por lá ajudando a Sidneia a organizar novamente a galeria. Ganhei pedras, PERFUMES, relíquias e roupas, tudo a Neia que me dava da galeria QUANDO NINGUÉM MAIS QUERIA. Uma época da minha vida EM que eu queria comer inteira só pra mim. COMER COMER COMER... UMA ÉPOCA INTEIRA. Aqueles dias de chuva, eu ficava no café da galeria no fim do dia, LENDO E OUVINDO IPOD, esperando a Neia passar pra me dar um tchau. A Neia até hoje é minha amiga e amiga da viúva do dr Shlomon.

Nessa época, havia uma moça mais velha que me adorava, eu morava num terraço da casa dela na Bela Vista. E dali saiam todos os tipos de encorajamento para a vida das duas. Durante essa época, às vezes uma amiga me chamava para passar a noite de shabat com ela e sua família, e no fim do jantar, seu marido me levava até à estação de metrô. Quando eu trabalhava no banco, minha amiga que era formada em matemática na usp sempre me defendia dos meus cálculos feitos à chinelada ENQUANTO EU FICAVA AMARRADA NUM ARAME FARPADO (MINHA SENSAÇÃO). Em compensação, eu a ajudava com as planilhas do Excel. Conheci também, enquanto eu trabalhava na google, uma senhora que me amava, ali na Bela Vista. Eu passava tardes de sábado fazendo café pra ela em sua cozinha, enquanto ela conversava com seus gatos.

Eu gostava do meu pessoal do banco e da google, que era aonde eu encontrava mais turma pra sair, e eu gosto assim: quando saio com um ou dois amigos hetero sem a pretensão de ser o alpha que vai se acasalar E MANDAR SEU FILHO ESPERMA PARA O LIXO JUNTO COM A CAMISINHA. Gosto quando o homem é tão bem sucedido e tão bem resolvido, que se disser quero ser sua amiga, ele se torna um amigo de respeito. Conheço alguns, SÃO AMIGOS DE OURO.

NÃO SEI SE NOTARAM, MAS A ESTRUTURA DO TEXTO FOI PROPOSITAL. FALEI DA CIDADE EM QUE PASSEI A ADOLESCÊNCIA, CHEIA DE MULHERES MACHISTAS, QUE COMPETEM E BRIGAM POR CAUSA DE HOMEM.

E MINHA EXPERIÊNCIA EXTRA BOLDIER. DEPOIS DA FRONTEIRA, DOS LIMITES SCRP-CASTELO BRANCO. CIDADES AFORA EM QUE FUI BEM TRATADA, BEM RECEBIDA, AMADA, RESPEITADA...O RESPEITO QUE UMA MULHER DÁ A OUTRA, DE ACORDO COM ALGUNS EXEMPLOS RÁPIDOS QUE DEI AQUI... NÃO TEM DIAMANTE A SER TROCADO. MULHERES AMIGAS, JAMAIS SERÃO VENCIDAS. MULHERES AMIGAS É O CORAÇÃO DE GAIA.

GRAÇAS A DEUS, A VIDA NOS DÁ O DIREITO DE ESCOLHER SÓ COISAS BOAS PRA GENTE.





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