Uma vez, sai com umas garotas que eu mal conhecia. Eu havia acabado de me mudar de cidade, era bem novinha, 13 anos. Elas me chamaram para dormir na casa de uma delas, e de lá, fomos para uma baladinha de adolescentes. Uma das garotas havia me emprestado botas e jaqueta. Eu estava tão gracinha e tão contente, era um mundo totalmente diferente para mim que até a pouco tempo, só convivia em festas do centro de tradições gaúchas (o CTG). Eu desconhecia literalmente a maldade humana, pois meus dias eram contados na fazenda, cavalgando numa égua manga larga para o sul e para o norte. Admirando as redondas montanhas do sul paranaense, enfiando o pé nas pedras lisas de lodo do rio gelado chamado Lageado. Um rio rasinho, com pedras escorregadias, algumas mini cachoeiras à sua extensão e pequenos redemoinhos aureolados sobre as aguas.
A nossa simplicidade
era tanta que minha irmã e eu só vestíamos roupas de panos e de retalhos feitas
por minha avó sefaradim. E tínhamos uma caixinha de papelão dentro de uma caixa
da máquina de costuras da qual pegávamos tiras de pano para prender os cabelos.
Voltando à baladinha
dos adolescentes, o hell´s brain, algumas daquelas garotas me chamaram para dar
uma volta do lado de fora. Eu, sempre sorrindo com aquela novidade de pessoas
descoladas com um copo de caipirinha na mão, ficava pensando se aquilo era parte
tradicional da cidade nova em que eu estava morando.
Era inverno,
estávamos morrendo de frio, e meus cabelos lisos esvoaçavam frente ao meu
rosto. Mas o maior problema não foi o frio, e sim a violência com que fui
tratada. Algumas garotas que estavam passando começaram a brigar comigo porque
achavam que eu ia dar em cima do namorado de uma delas, então, se ela achava
que eu ia dar em cima do namorado dela, era melhor advertir isso antes.
Eu, com meus olhinhos
pretos arregalados, perplexos como duas jabuticabas que acabam de cair no chão
de surpresa. Enquanto elas gritavam comigo, as outras garotas já haviam saído
de perto. Então a garota que me havia emprestado roupas para sair, abriu a roda,
apontou para mim e disse, se forem bater nela, tirem a jaqueta e as botas,
porque são minhas e foi caro.
Depois de um tempo,
vieram garotas na minha casa com uma lista dos garotos com quem eu não podia me
envolver e nem cumprimentar.
Depois, um dos
garotos que era afim de mim me trancou no banheiro numa festa da família e quis
ME ATACAR. Estávamos ficando HÁ UM TEMPO, eu disse para ele não. E ele nunca
mais olhou na minha cara. Claro.
Depois, passei um dia
no sítio do meu amigo. Meninas e meninos bebendo cerveja e tequila numa festa
de fim de semana. Um ex colega de sala me chamou par conversar. Começou a dizer
que era apaixonado por mim, que queria terminar com A NAMORADA, quando eu disse,
não faz isso, ela é muito boazinha. Ele me deu um beijo. Eu sai de perto.
Então, ele contou para ela, claro. E ela veio brigar comigo. Claro. Disse que
eu era uma biscate, uma vagabunda e que ela só não ia me dar um tapa na cara
porque não ia se rebaixar a isso. Claro.
Sempre fui uma pessoa
convencional que não convence ninguém. Não convenço ninguém por ser
convencional, porque eu visto roupas diferentes, sigo modas aleatórias, já se
foi pra mim, ficar restrita a uma moda Milão, moda de Paris. Sou um estilo boho
chic, acho que mais para uma californiana hippie chic. Mas isso não significa
que eu não saiba ser uma trader na NASDAQ se eu quiser, sim, porque
inteligência, boas maneiras, educação, conhecimento, sabedoria, beleza,
idoneidade e gosto por dinheiro não é relativo à roupa, meu amor.
independente do seu
estilo, todo mundo quer dinheiro, desde a mulher barbada do circo, ao mendigo
que passou por você agora (dá um lanche pra ele, ok!), ao engraxate que fica na
São Bento, São Paulo old centre, ao porteiro das catracas do seu prédio comercial,
o uber, o taxista, o corretor, o policial, a atendente, O CARTEIRO, etc.
Mas fazer ciências
sociais e se tornar antropóloga, pega mal para garotas do interior que se
formam em qualquer universidade apenas para casar com alguém melhor do que a
família dela. EU PREFIRO SEGUIR UMA TRADIÇÃO PROFISSIONAL, UMA LINHA
DE PENSAMENTO COMO MESTRES E APRENDIZES COM MEUS FILHOS (FUTUROS).
Qualquer faculdade é
boa, depende de quem está nela E DE QUEM TE CONTRATA DEPOIS. Conheço ex
universitários da Anhanguera que estão bem de remuneração e financeiramente
estável. Mas, conheço alunas da USP, com doutorado, que estão passando
perrengues DANDO AULAS em universidades como a Anhanguera.
Depois, perdi o
contato com o lado trash and gross da cidade. Ora pois, aquelas garotas
disseram que eu era muito humanista, muito feminista, muito pra frente da
sociedade, CHEGARAM A DIZER QUE EU DAVA VERGONHA e que eu não era bem vinda.
Depois disso, eu
encarei novas turmas, fiz e desfiz amigos, selecionei, picotei alguns,
rabisquei uma ou outra foto.
Depois trabalhei numa
loja de produtos importados num shopping, fiz estágio no programa bolsa
família, trabalhei no banco do Brasil por quatro anos, passei umA tempoRADA na
Europa. VolteI, encontrei a Galeria de Antiguidades da Bela Vista DO finado dr
Shlomon. Trabalhei por lá ajudando a Sidneia a organizar novamente a galeria.
Ganhei pedras, PERFUMES, relíquias e roupas, tudo a Neia que me dava da galeria
QUANDO NINGUÉM MAIS QUERIA. Uma época da minha vida EM que eu queria comer
inteira só pra mim. COMER COMER COMER... UMA ÉPOCA INTEIRA. Aqueles dias de
chuva, eu ficava no café da galeria no fim do dia, LENDO E OUVINDO IPOD,
esperando a Neia passar pra me dar um tchau. A Neia até hoje é minha amiga e
amiga da viúva do dr Shlomon.
Nessa época, havia
uma moça mais velha que me adorava, eu morava num terraço da casa dela na Bela
Vista. E dali saiam todos os tipos de encorajamento para a vida das duas.
Durante essa época, às vezes uma amiga me chamava para passar a noite de shabat
com ela e sua família, e no fim do jantar, seu marido me levava até à estação
de metrô. Quando eu trabalhava no banco, minha amiga que era formada em
matemática na usp sempre me defendia dos meus cálculos feitos à chinelada
ENQUANTO EU FICAVA AMARRADA NUM ARAME FARPADO (MINHA SENSAÇÃO). Em compensação,
eu a ajudava com as planilhas do Excel. Conheci também, enquanto eu trabalhava
na google, uma senhora que me amava, ali na Bela Vista. Eu passava tardes de
sábado fazendo café pra ela em sua cozinha, enquanto ela conversava com seus
gatos.
Eu gostava do meu
pessoal do banco e da google, que era aonde eu encontrava mais turma pra sair,
e eu gosto assim: quando saio com um ou dois amigos hetero sem a pretensão de
ser o alpha que vai se acasalar E MANDAR SEU FILHO ESPERMA PARA O LIXO JUNTO COM
A CAMISINHA. Gosto quando o homem é tão bem sucedido e tão bem resolvido, que
se disser quero ser sua amiga, ele se torna um amigo de respeito. Conheço
alguns, SÃO AMIGOS DE OURO.
NÃO SEI SE NOTARAM,
MAS A ESTRUTURA DO TEXTO FOI PROPOSITAL. FALEI DA CIDADE EM QUE PASSEI A
ADOLESCÊNCIA, CHEIA DE MULHERES MACHISTAS, QUE COMPETEM E BRIGAM POR CAUSA DE
HOMEM.
E MINHA EXPERIÊNCIA
EXTRA BOLDIER. DEPOIS DA FRONTEIRA, DOS LIMITES SCRP-CASTELO BRANCO. CIDADES
AFORA EM QUE FUI BEM TRATADA, BEM RECEBIDA, AMADA, RESPEITADA...O RESPEITO QUE
UMA MULHER DÁ A OUTRA, DE ACORDO COM ALGUNS EXEMPLOS RÁPIDOS QUE DEI AQUI... NÃO
TEM DIAMANTE A SER TROCADO. MULHERES AMIGAS, JAMAIS SERÃO VENCIDAS. MULHERES
AMIGAS É O CORAÇÃO DE GAIA.
GRAÇAS A DEUS, A VIDA
NOS DÁ O DIREITO DE ESCOLHER SÓ COISAS BOAS PRA GENTE.
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