quinta-feira, 29 de junho de 2023

Quando o sol de Londrina veio me ver

E

ra um dia calmo, dentro das perspectivas da vida. Havia chovido muito, mas o vento era brando, não chegava a ser uma tempestade tropical, apenas uma frente fria que pela previsão meteorológica duraria alguns dias. No entanto, lá pelas quatro horas da tarde, o sol veio iluminando tudo, pouco a pouco as nuvens corriam para outro oeste, abençoando qualquer pomar pelos interiores adentro. Isso forçava as pessoas a fecharem os guarda-chuvas e a se despirem um pouco dos casacos que as protegiam do tempo úmido. Nos locais de grande concentração urbana, juntavam-se desassossegados os grandes homens da vida, aqueles que labutam no dia e morrem de cansaço na noite, que depois de um desabafo sôfrego para as suas madamas enfeitadas de batom vermelho e brincos de argola, esqueciam-se dos pesos de seus patrões e adormeciam quase feito anjos.

Hanna estava envolta a uma terrível solidão, daquelas que não se alcança normalmente. Pendurada em seu vestido cor de abacate, ela amargurava o ódio da vida, o ansioso fantasma obscuro que a fazia perder o ar. Tentava respirar, mas não conseguia. Era fatalmente uma crise da sua alma tão dolorosa que ficava à espreita, aguardando o momento para adentrar o corpo biológico e fazer sua criatura sofrer de espasmos neuróticos. Sua falta de ar a deixava  tonta e sem forças, tentava não pensar nisso e se transferia aos problemas do mundo, o quanto talvez, as crianças de Chernobyl sofriam mais do que ela. “Ao menos elas sofrem em coletividade, isso acalma e é melhor do que sofrer sozinha no mundo. Em mim, em nós, é cada formigueiro e uma formiga.” Deus fingia não gostar de Hanna quando ela refletia, ele a compreendia, mas não podia falar nada.




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