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ra um dia calmo,
dentro das perspectivas da vida. Havia chovido muito, mas o vento era brando,
não chegava a ser uma tempestade tropical, apenas uma frente fria que pela
previsão meteorológica duraria alguns dias. No entanto, lá pelas quatro horas
da tarde, o sol veio iluminando tudo, pouco a pouco as nuvens corriam para
outro oeste, abençoando qualquer pomar pelos interiores adentro. Isso forçava
as pessoas a fecharem os guarda-chuvas e a se despirem um pouco dos casacos que
as protegiam do tempo úmido. Nos locais de grande concentração urbana,
juntavam-se desassossegados os grandes homens da vida, aqueles que labutam no
dia e morrem de cansaço na noite, que depois de um desabafo sôfrego para as
suas madamas enfeitadas de batom vermelho e brincos de argola, esqueciam-se dos
pesos de seus patrões e adormeciam quase feito anjos.
Hanna
estava envolta a uma terrível solidão, daquelas que não se alcança normalmente.
Pendurada em seu vestido cor de abacate, ela amargurava o ódio da vida, o ansioso
fantasma obscuro que a fazia perder o ar. Tentava respirar, mas não conseguia.
Era fatalmente uma crise da sua alma tão dolorosa que ficava à espreita, aguardando
o momento para adentrar o corpo biológico e fazer sua criatura sofrer de
espasmos neuróticos. Sua falta de ar a deixava tonta e sem forças, tentava não pensar nisso e
se transferia aos problemas do mundo, o quanto talvez, as crianças de Chernobyl
sofriam mais do que ela. “Ao menos elas sofrem em coletividade, isso acalma e é
melhor do que sofrer sozinha no mundo. Em mim, em nós, é cada formigueiro e uma
formiga.” Deus fingia não gostar de Hanna quando ela refletia, ele a
compreendia, mas não podia falar nada.
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